Motociclistas são metade das vítimas de acidentes de trânsito na Bahia


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Se não houvesse os acidentes de trânsito, sobrariam leitos nos hospitais da Bahia. Pode parecer absurdo, mas esse é o panorama do impacto que os acidentes graves de trânsito causam no sistema de saúde.  Só no primeiro trimestre deste ano, foram 2.049 internações de vítimas de acidente de trânsito, sendo 1.006 (49,1%) por moto. Os dados são da Secretaria Estadual da Saúde (Sesab).  Segundo o titular da Sesab, Fábio Villas Boas, os acidentes com motociclistas deixam sequelas mais graves nos pacientes, que precisam de um tempo maior de internamento. “Os acidentes são mais graves, deixam mais sequelas, e os pacientes permanecem mais tempo internados, impactando gravemente (na ocupação) de leitos dos hospitais", explica. Villas Boas afirma que pacientes de acidentes de moto chegam a ficar 90 dias internados ou mais, "em UTI e em apartamentos também”. Segundo o secretário, a faixa etária dessas vítimas é de 18 a 30 anos.  “Mais da metade de hospitais da Bahia inteira, seja de hospitais municipais quanto estaduais é ocupada por acidente de trânsito, seja de moto, seja de carro”, concluiu.  Vítimas de acidentes de trânsito sofrem politraumatismos e precisam passar por diversas cirurgias, o que aumenta o tempo de permanência nos hospitais e comprometem a capacidade de atendimento dos hospitais para outras demandas.




Três cirurgias: Foi o que aconteceu com Josué Bispo Barbosa, 49 anos. No próximo dia 22 completam três anos do acidente que mudou a sua vida. Quando parou em um semáforo para tentar equilibrar uma sacola que estava segurando, a moto que dirigia empinou e caiu por cima de sua perna. Por causa do acidente, ele passou por três cirurgias na perna e se prepara para ter que fazer outra, já que o problema de hérnia de disco foi agravado com o acidente. “Uso uma placa de titânio com 13 parafusos. Fiz três cirurgias nesses três anos. Fiquei 10 dias internado da primeira vez, depois internei de novo para fazer enxerto natural e depois tive que trocar parafusos e trocar a placa”, conta.  As sequelas não permitem que Josué trabalhe, e ele está encostado por invalidez pelo INSS. “Eu tive que reaprender a andar, sentar, levantar, dormir, não posso fazer movimentos bruscos. Eu estou encostado pelo INSS, e sem previsão pra voltar à ativa ainda”, explica. Já o motociclista Ronald Alexandrino está internado há 25 dias por causa de um acidente na estrada. Ele pilotava a moto quando foi fechado por um carro e arremessado na pista. “O cara me deu uma fechada e fugiu sem prestar socorro”, lembra. Ronald pilota há cerca de 15 anos e nunca tinha sofrido nenhum acidente.

“Foi um susto”, diz.
Mortes: Mais de 13 mil pessoas foram hospitalizadas em 2016 na Bahia vítimas de acidente de trânsito, sendo 52,3% (6.675) vítimas de acidente de moto. Desse total, 1.832 não resistiram e morreram - 624 estavam sobre duas rodas. Segundo a Sesab, também houve um crescimento na taxa de mortalidade envolvendo acidentes de trânsito, e, entre 2000 e 2014, o total de acidentes por cada 100 mil habitantes aumentou 105,6%. Os óbitos envolvendo apenas motociclistas cresceram 481,2%. O impacto também é grande nas contas do sistema de saúde, para se cobrir os custos dos tratamentos. Segundo o secretário, são R$ 500 milhões por ano para tratar de vítimas de acidentes de trânsito na Bahia, contando apenas os hospitais estaduais, sem incluir as unidades municipais.

Comitê: Para diminuir esses acidentes, órgãos estaduais estão se reunindo para criar o Comitê Estadual de Prevenção dos Acidentes de Moto. Um dos objetivos é fazer um georreferenciamento dos acidentes de motos, já que, segundo o secretário estadual, não existe um monitoramento exato desse tipo de ocorrência.  A proposta é que esse mapeamento dos acidentes seja realizado por meio de notificação compulsória dos acidentes, o que não acontece hoje. “A gente não sabe quantos acidentes de motos dão entrada nas unidades, porque entram como fratura de perna, por exemplo. A partir de agora, quando chegar na unidade, vai ter que preencher uma ficha específica, e a partir dessa localização vamos fazer o georreferenciamento”, explica Villas Boas. Com o mapeamento, vai ser possível promover ações para reduzir essas ocorrências. “Vamos saber quais as localidades do estado inteiro onde acontecem mais acidentes, e corrigir o que for possível. Se em um local tiver uma curva que provoque esses acidentes, vamos corrigir essa curva. Se for por alta velocidade, vamos colocar um redutor, se for por causa de consumo de álcool, vamos fazer blitz de alcoolemia”, detalha.
Imprecisão : O diretor geral do Detran-BA, Lúcio Gomes, explica que nem todos os acidentes são registrados pelas polícias rodoviárias e que muitas vítimas vão aos hospitais por conta própria, por isso não há precisão nas localizações exatas dos acidentes.  “As vítimas chegam aos hospitais, e para ter um atendimento célere, não é feita a coleta desses dados precisos de onde aconteceu o acidente. Com esses dados vamos poder identificar precisamente onde aconteceu e saber o que causou o acidente”, afirma.  Ainda segundo ele, 90% dos acidentes de trânsito acontecem por causas previsíveis e a maior parte deles está relacionada à imprudência dos condutores. Por isso, o departamento se prepara para ampliar o projeto da Escola Pública do Detran para o interior do estado.  Atualmente, o projeto é realizado nas cidades de Camaçari, Feira de Santana, Esplanada, Irecê e Vitória da Conquista. “Vamos ter uma unidade móvel para percorrer o estado formando os condutores para transitar com qualidade e obedecendo as regras de trânsito”, explica.  Essa ampliação tem como objetivo combater o número de motos falsificadas e de condutores que pilotam sem ter a carteira de habilitação. Gomes explica que os equipamentos de segurança, como capacete e calçados e roupas adequados também devem ser usados.  Por isso, o comitê é formado por diversos órgãos. Na última quarta-feira (9), as secretarias estaduais de Infraestrutura (Seinfra), Segurança Pública (SSP), Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SJDHDS), Educação (SEC), além de representantes da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) e Conselho Estadual dos Secretários Municipais de Saúde da Bahia (Cosems) se reuniram para definir diretrizes desse comitê.

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