Energia elétrica pesa na inflação do mês após Bônus de Itaipu
O grupo que mais pesou na inflação de fevereiro foi o de Habitação, com uma alta de 4,44% e um impacto de 0,65 ponto percentual (p.p.) sobre o índice cheio.
Essa alta foi puxada, sobretudo, pelo avanço de 16,80% nos preços da energia elétrica residencial. O forte aumento é, na verdade, consequência da normalização nas contas de luz no mês: em janeiro, o Bônus de Itaipu foi incorporado nas contas, resultando em um desconto para o consumidor.
No entanto, a inflação da energia elétrica de fevereiro é maior que a deflação de 14,21% registrada em janeiro com o desconto nas contas.
Além dos preços da energia, a taxa de água e esgoto também teve uma alta de 0,14%, em média, no mês, refletindo reajustes nas tarifas de algumas cidades, como Campo Grande e Belo Horizonte.
Segundo José Fernando Pereira, gerente da pesquisa do IPCA, excluindo o impacto do grupo de Habitação o IPCA de fevereiro teve alta de 0,78%.
Mensalidade escolar, alimentos e combustíveis também subiram
Apesar do grupo de Habitação ter registrado o maior impacto sobre a inflação do mês, a maior alta percentual foi do grupo de Educação, que subiu 4,70% e teve um peso de 0,28 p.p. sobre o índice.
O avanço do grupo é resultado dos reajustes das mensalidades escolares. Os destaques foram as altas no ensino fundamental, de 7,51%, ensino médio, de 7,27%, e da pré-escola, de 7,02%.
Já o grupo de Alimentação e bebidas, com uma alta de 0,70%, teve um peso de 0,15 p.p. sobre a inflação do mês. O resultado representa uma desaceleração em relação à alta de 0,96% registrada em janeiro.
A desaceleração foi puxada pela queda nos preços da batata-inglesa (-4,10%), o arroz (-1,61%) e o leite longa vida (-1,04%). No entanto, alimentos muito presentes na cesta dos brasileiros continuaram subindo, com destaque para o ovo de galinha (15,39%) e o café moído (10,77%).
A forte alta nos preços dos ovos foi influenciada pelo aumento das exportações, em decorrência do problema de gripe aviária nos Estados Unidos, o início das aulas, que aumenta a demanda pela proteína, e o clima mais quente, que prejudica a produção, explica Pereira.
Na alimentação fora do domicílio, os preços médios dos lanches (0,66%) e refeição (0,29%) também tiveram altas, mas menores que no mês anterior.
Por fim, o grupo de Transportes, que subiu 0,61%, também teve um impacto importante sobre o índice, de 0,13 p.p., puxado pelo aumento médio de 2,89% nos preços dos combustíveis.
Os principais combustíveis tiveram alta em fevereiro: óleo diesel (4,35%), etanol (3,62%) e gasolina (2,78%). Só o gás veicular teve queda, de 0,52%.
No grupo, os reajustes nos preços dos transportes públicos também pesaram no mês.
Inflação de serviços segue elevada
O IPCA também é analisado pelo mercado sob duas grandes categorias: os preços monitorados e a inflação de serviços.
Os preços monitorados, também chamados de administrados, são aqueles controlados parcial ou totalmente pelo governo, como a energia elétrica, as taxas de água e esgoto, os combustíveis e as tarifas de transporte público.
Esses preços, portanto, não seguem livremente a lei de oferta e demanda, mas respondem ao que é determinado pelo governo — exemplo do Bônus de Itaipu na conta de luz em janeiro.
Neste contexto, com a forte alta de energia elétrica residencial e outros itens, como os combustíveis, em fevereiro, a inflação dos preços monitorados disparou 3,16% no mês, contra uma queda de 1,52% em janeiro. Em 12 meses, o acumulado é de uma alta de 5,19%.
A inflação de serviços, por outro lado, teve uma aceleração mais modesta: passou de 0,78% em janeiro para 0,82% em fevereiro. Mas, no acumulado em 12 meses, a alta é mais expressiva, de 5,32% — patamar bem acima dos 5,06% registrados no acumulado do IPCA geral.
A inflação de serviços é a que mais preocupa o BC porque esses preços são determinados pela oferta e demanda, como os serviços de restaurantes, salões de beleza, escolas particulares e outros cursos, por exemplo.
José Fernando Pereira, do IBGE, explica que o mercado de trabalho aquecido, com uma taxa baixa de desocupação, continua pressionando a demanda pelos serviços — porque há mais dinheiro circulando — o que contribui para a aceleração da inflação e pode levar o BC a promover novas altas nos juros.
Hoje, a Selic, taxa básica de juros, está em 13,25% ao ano, depois de uma sequência de quatro altas promovidas pelo Comitê de Política Monetária (Copom), e a expectativa é que continue subindo.
Juros maiores tornam a tomada de crédito mais cara, o que tende a diminuir o consumo e a demanda por bens e serviços. O efeito das decisões do Copom, porém, demoram alguns meses para ser sentido na economia real.
Em fevereiro, as maiores altas entre os serviços vieram dos reajustes das mensalidades escolares, clubes, costureira, hospedagem, depilação, pet shop, aluguel residencial, manicure e serviço bancário.
INPC volta a subir em fevereiro
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), usado como referência para reajustes do salário mínimo e que calcula a inflação para famílias de renda mais baixa, teve alta de 1,48% Em janeiro, o índice não teve variação.
Assim, o INPC acumulou uma alta de 4,87% nos 12 meses até fevereiro de 2025.
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