“Parei de usar a internet. Agora, só acesso para tirar saldo”, revela a professora de estudos africanos do ensino médio Tomázia Santana Azevedo.Esta semana, uma senhora de 65 anos procurou a polícia depois de ter depositado R$ 20 mil em uma conta no Paraná para uma quadrilha de Goiás. Ela acreditou na promessa fácil de um site, de empréstimo de R$ 150 mil.Histórias como essas multiplicam-se e levaram o Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) a propor a criação do Núcleo de Combate aos Crimes Cibernéticos. A unidade deve ser implantada nos próximos 15 dias, segundo garante o procurador-geral de Justiça, Wellington Silva.Este será o segundo núcleo específico implantado por ministérios públicos estaduais no Brasil. O primeiro foi em Minas Gerais, há três anos. “Os dados nesse tipo de investigação são peculiares, e há a necessidade de especialização, tanto do promotor quanto do policial”, defende a promotora de justiça Vanessa Fusco, coordenadora da Promotoria de Combate aos Crimes Cibernéticos (PECCiber), do Ministério Público do Estado de Minas Gerais.O treinamento dos promotores baianos será dado pelos colegas mineiros do PECCiber, estendido também a policiais que atuam na área. O núcleo baiano estará ligado ao Centro de Apoio Operacional Criminal (Caocrim), do MP-BA, e terá até dois promotores de justiça e cerca de cinco servidores, segundo o procurador-geral.Pesquisa - Na Bahia, nem a Polícia Civil nem o Ministério Público estadual possuem números sobre este tipo de crime. Mas a pesquisa internacional Ranking Motorola de Cidades Digitais, divulgada no ano passado, colocou Salvador como a 12ª cidade mais digital da América Latina – o que indica risco aos soteropolitanos.Em Minas, há 611 inquéritos e processos em andamento no PECCiber e mais de 900 queixas foram prestadas, apenas este ano, na Delegacia Especializada de Investigações de Crimes Cibernéticos (Deicc) daquele Estado.Diferentemente de outros seis estados e do Distrito Federal, a Polícia Civil baiana não possui uma unidade especializada em combater esses crimes. Boa parte deles, quando envolvem fraudes eletrônicas, vão parar na Delegacia de Repressão a Estelionatos e Outras Fraudes (Dreof), onde o titular, Charles Leão, preside, pelo menos, 30 inquéritos desse tipo. Para ele, a criação de unidades especializadas é uma tendência nacional, que contribui para o trabalho da polícia: “O MP-BA está de parabéns por ter saído na frente”.Investigação - A principal dificuldade para o combate a crimes cibernéticos é a descoberta da identidade dos criminosos, beneficiados pelo anonimato da internet, além do caráter interestadual que muitas vezes o crime assume.Assim que obtiver a ordem judicial para a quebra do sigilo bancário e da identificação do computador utilizado pelos suspeitos, o delegado Leão começará a parte realmente difícil da investigação sobre a quadrilha que aplicou o golpe do empréstimo falso na senhora de 65 anos citada no início deste texto. Tudo indica que a quadrilha atuava a partir do Estado de Goiás, o que exige o envio de uma correspondência para que a polícia do outro Estado localize os suspeitos. “Só aí são dois ou três meses”, lamenta Leão
TRIBUNA
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