E aí? Vamos discutir a relação?
Discutir a relação é algo comum não apenas em relacionamentos amorosos, mas também nas relações empresariais e profissionais. É comum ficarmos horas tentando entender quem é o responsável pelas problemáticas que nos deparamos sempre que estamos em convívio com outras pessoas. A saída mais rápida é olhar para o outro como o que funciona diferente da forma que sempre sonhei. O outro não age assim ou não me compreende nestes aspectos. No entanto, os relacionamentos que escolhemos viver são ótimas oportunidades de nos enxergarmos mais de perto.
As pessoas que cruzam nossos caminhos nos mostram características nossas quer sejam elas fáceis de assimilar, já conscientes ou profundamente rejeitadas. Já deve ter acontecido de você encontrar dificuldade em conviver com alguém que é muito diferente de você. Pode ser uma situação de organização, por exemplo. Você pode ser extremamente organizado e achar que o desleixo de outro pode ser um descaso. Você pode achar que é mais flexível em seus planejamentos e achar que o outro é rígido demais. Nas duas situações a saída mais confortável é apontar o dedo para o outro sinalizando o quanto ele está inadequado.
Saber identificar o que compõe nossa essência mais pura é fundamental para buscarmos uma vida inteira. Ano após ano temos oportunidade de encararmos nossas facetas de perto, porém, não é fácil, pois isso requer abandonar nosso modelo mental praticado há décadas e herdado de nossos amados pais. Contudo, manter um padrão não funcional e apenas lógico é muito pouco para alcançar uma vida de realizações.
É longa a jornada deste mergulho em nossa essência e também sabido que poucos conseguem iniciar de maneira consciente este projeto. Um ótimo começo é olhar para o outro como um espelho gigante. Todos são nossos espelhos. Um espelha o que eu gosto de ver em mim. Ele espelha minha capacidade de ser x ou y e eu já sei disso. Ah, como adoro a amizade com esta pessoa, o casamento com ela ou trabalhar com ela. Mas, como a vida é sábia, e nosso inconsciente também, outro espelhará meus piores deslizes, minhas falhas secretas até de mim mesmo, aquilo que mais repudio num ser humano, mas que habita todo o meu ser. Quer seja em potencial para eu trazer à tona ou pela minha necessidade de enfrentar e me aproximar do meu oposto.
Muito se fala no caminho do meio, pois o segredo está na dose. E o que acontece é que às vezes nos apaixonamos por crenças que não sabemos viver sem elas e acreditamos que qualquer coisa fora disso é errada.
Uma executiva com uma carreira de sucesso me procurou para um coaching com um pedido especial: quero que me ajude a consertar as pessoas. Respirei fundo algumas vezes e iniciamos o trabalho. Ela já havia conquistado muitas coisas, mas achava que todos ao seu redor estavam errados e ela já estava cansada e doente, hipertensa, pré diabética, acima do peso, com insônia e sobretudo, infeliz.
Aprofundamos o entendimento sob toda esta insatisfação. Constatamos que ela, por ser a mais velha entre os irmãos, amadureceu cedo com a ausência do pai que viajava muito a trabalho. Sua mãe adoeceu e ficou debilitada por dois anos ainda em sua adolescência. Seus dois irmãos mais novos passaram a depender dela financeira e emocionalmente. Não dá para ser adulto quando se é criança ou adolescente. Como ser feliz com crenças de que é preciso controlar tudo para que todos estejam seguros?
Todos temos nossas crianças que precisam ser olhadas, entendidas e autorizadas a crescerem e escolherem crenças mais saudáveis. Todos temos nossos entraves e é cômodo responsabilizar o outro, mas acontece que o outro também tem seus entraves e construímos relações enganchadas: meus entraves e os seus.
Discutir a relação passa por conversar com as crianças que compõe nossa história, colocá-las no colo, reconhecer que foi o melhor que pudemos fazer naquela situação e agora é fundamental entender que todos que cruzam nosso caminho trazem uma oportunidade de conhecermos mais sobre nós mesmos e fazermos escolhas diferentes. Não dá para controlar tudo. Ter pessoas "erradas" ao redor pode ser apenas um convite para olhar que não temos o poder de consertar o outro, mas sim todas as ferramentas para nossa cura pessoal.
Por Mari Cordeiro. Consultora da M&S, consultoria especializada em desenvolvimento humano.
Sobre a M&S:
www.msdh.com.br
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