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Ricardo Feltrin: TV aberta vive nova onda de "baixaria"




Parece um fenômeno sazonal: a cada dez anos a TV brasileira é vítima de uma onda de programas de baixíssimo nível. Esses programas primeiro amealham grande público. No fim, acabam atraindo atenção demais e provocam vozes que clamam que TV é uma concessão pública e, como tal, tem responsabilidade social. Não tarda e telespectadores, anunciantes ou ONGs se organizam e conseguem tirar a baixaria do ar. Dez anos depois, em média, ela volta com nova roupagem.
Foi assim nos anos 80, quando a TVS (origem do atual SBT) lançou um programa insolente chamado O Povo na TV. A atração vespertina tinha todo tipo de aberrações.

De doentes e pobres pedindo dinheiro a casais que lavavam roupa suja em público; de anões usados como espetáculo a pancadarias entre vizinhos; de matérias sensacionalistas sobre crimes horripilantes ao misticismo mais fantasioso e barato. O Povo na TV foi um sucesso entre as classes C e D.
O programa teve tanto ibope que começou a incomodar a Globo. Era a TV novata de Silvio Santos molestando o ícone intocável da mídia no país. Não demorou muito para deputados (diz a lenda, orquestrados pela própria Globo) ameaçassem cassar a concessão da TVS. Agências pararam de veicular anúncios no programa, que tinha um enorme custo diário. Não demorou muito e O Povo... escafedeu-se da TV.
Vieram os anos 90 e novamente surgiram baixarias, lideradas por programas policialescos vespertinos. Entre os piores, estava o de Luiz Carlos Alborghetti, que se apresentava com  um toalhinha no ombro e suava copiosamente de ódio, enquanto defendia o linchamento de qualquer tipo de criminoso e os heróicos esquadrões da morte.
Não demorou muito e Alborghetti gerou um descendente, o atualmente famoso e divertido Ratinho. Nos primórdios Ratinho era tudo, menos engraçado. Também usava às vezes um porrete para defender pancadas na bandidagem e foi um  dos primeiros comunicadores a atacar grupos que defendiam direitos humanos. Em poucos anos o estilo começou a cansar, Alborghetti sumiu e Ratinho mudou para um formato mais histriônico. Houve mais um período de calmaria na TV.
Chegou então o ano 2000 e com ele novamente as baixarias, materializadas na época por João Kleber na RedeTV! e Ratinho, mais uma vez, com seus programas patrocinando pugilato entre casais e inimigos ao vivo.
Houve grande pressão de ONGs e surgiu até um slogan: "empresa decente não anuncia em baixaria". Promotores públicos pressionaram, políticos fizeram palanque e João Kleber chegou a ser demitido da TV. Asilou-se em Portugal, onde continuou sua saga de brigas ao vivo em uma TV local. Foram 10 anos de relativa calmaria, mas agora, em 2014, ela volta com tudo. Há baixo nível para todos os horários e públicos, e em praticamente todos os canais.
Da violência exacerbada ao sexo semi-explícito nas novelas da Globo ao baixo nível de Casos de Família, do SBT; das brigas e "revelações" entre amigos e familiares no Você na TV à apologia às crenças fantasmagóricas de A Tarde é Sua, da RedeTV!; do conteúdo deprimente do Domingo Show, da Record, ao popularesco e imbecilizante Esquenta, de Regina Casé.
E, agora, até a Band, que sempre primou por um jornalismo de relativa qualidade, também descambou  e estreou sua própria baixaria: o Tá na Tela, com Luiz Bacci. O pior é que são programas com classificação permitida a crianças, quando deveriam ter até codificação para acesso.
Está na hora de telespectadores, anunciantes e ONGs  mobilizarem-se novamente para interromper esta nova epidemia de baixo nível que assola a TV brasileira assim como o Ebola ataca a África. Antes que seja tarde.

A TARDE

Um comentário:

  1. Quero acrescentar à lista, o programa da rede globo " Big Brother Brasil ". Também conhecido como " BBB ". Um programa de alto nível de Baixaria e tantas outras coisas... e considero o pior programa da televisão brasileira

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