AVC e infarto são mais comuns nos dias frios
Os dias frios sempre despertam preocupação em relação a doenças respiratórias, como gripes, resfriados e rinites alérgicas. Poucos sabem, no entanto, que as baixas temperaturas representam também risco de complicações cardiovasculares. “Há uma incidência 10% a 18% maior de infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC) durante o inverno”, afirmam cardiologistas.
A relação entre frio e doenças cardiovasculares tem na hipertensão arterial uma das principais causas. Quando sentimos frio, ocorre a liberação de uma substância, um tipo de catecolamina, que contrai os vasos sanguíneos, em especial as artérias. Esse é um mecanismo que diminui a dissipação do calor, muito importante para enfrentarmos o frio. Por outro lado, ele provoca a diminuição do calibre arterial, que aumenta a resistência contra a qual o coração necessita bombear para movimentar o sangue, além de dificultar a própria circulação nas diversas partes do organismo, já que o fluxo de sangue acontece num vaso com menor calibre. Essa situação provoca uma sobrecarga para o coração e um risco especial para o cérebro.
“Além disso, podem ocorrer alterações no perfil metabólico durante os dias mais frios. A elevação dos níveis de colesterol, causada pelo consumo de alimentos mais gordurosos, é uma delas”, explica o cardiologista Renato Scotti Bagnatori, do Fleury. O colesterol em excesso pode formar perigosas placas de gordura que, com o tempo, podem obstruir e comprometer o fluxo sanguíneo nas artérias do coração e do cérebro resultando, respectivamente, no infarto do miocárdio e no acidente vascular cerebral.
As pessoas que correm mais risco de apresentar problemas cardiovasculares no frio são as que já sofrem de doenças cardíacas, obesidade, hipertensão arterial e diabetes. Isso é ainda mais grave se cursar concomitantemente com a doença aterosclerótica. “O frio excessivo pode levar à ruptura de uma placa aterosclerótica, o que causa a trombose intravascular e a obstrução da artéria”, afirma Mastrocolla.
É por isso que, no que tange à prevenção do infarto e do AVC, o controle dessas condições de saúde é a principal recomendação dos médicos. “Controlar os fatores de risco é essencial. Isso envolve parar de fumar e adotar a prática regular de atividade física, além, claro, de estar atento aos níveis do colesterol, à pressão arterial e ao controle do diabetes mellitus”, diz Marcela Oliveira Lima, do serviço de Cardiologia do Fleury. "Fica claro também que a exposição ao frio se torna uma preocupação, e, por isso, deve ser evitada."
A população de faixa etária mais avançada é a mais propensa a essas complicações, segundo Renato Scotti Bagnatori. “Acredita-se que o idoso, por possuir uma reserva fisiológica mais restrita, tenha menos capacidade de enfrentar essas condições e responda com aumento exacerbado dos níveis de pressão arterial e transtornos mais frequentes de coagulação sanguínea, além de mais propensão às infecções típicas do frio, que podem ser fatores desencadeantes de eventos cardiovasculares.”
É importante, portanto, ficar muito atento aos sinais clássicos do infarto e do AVC. “Dor no peito em caráter opressivo, com ou sem irradiação para os membros superiores, sudorese fria, falta de ar e náusea são os sintomas mais perceptíveis da doença coronariana instável”, diz a cardiologista Marcela Oliveira Lima. Já o AVC é caracterizado por perda repentina da força muscular e/ou da visão, dificuldade para falar, tonturas, formigamento em um dos lados do corpo, alterações de memória, dor de cabeça, náuseas e vômitos.
Ao surgimento desses sintomas, deve-se procurar um serviço de emergência, para a avaliação de um médico que levantará a suspeita clínica e solicitará os exames necessários para confirmar sua hipótese. “Na avaliação do médico, o paciente pode ser submetido a um eletrocardiograma – que, em muitas situações, pode sugerir a interrupção da circulação sanguínea no coração – e a exames de sangue que medem o nível de enzimas que aumentam com a destruição de células cardíacas. Em determinadas situações o ecocardiograma também pode ser útil”, diz Mastrocolla. Nos casos de comprometimento neurológico essa investigação amplia-se com os estudos das condições cerebrais, que podem incluir desde ultrassonografias com doppler das artérias até ressonâncias nucleares magnéticas.
Fontes: Luiz Eduardo Mastrocolla, assessor médico do serviço de Cardiologia do Fleury; Renato Scotti Bagnatori e Marcela Oliveira Lima, cardiologistas do Fleury
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