Uma das pistas que pode esclarecer o que aconteceu com a médica Sáttia Lorena Aleixo, 27, está em bilhetes encontrados no apartamento onde ela mora, após a moça cair do 5º andar do prédio, em Armação. As mensagens, supostamente escritas pela médica, foram achadas por policiais em meio a objetos espalhados na sala do imóvel.
As informações foram passadas ao CORREIO por fontes da Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA) que tiveram acesso ao local. O laudo oficial da perícia técnica só deverá sair em 30 dias. Sáttia Lorena continua internada em estado grave no Hospital Geral do Estado (HGE).
De acordo com as fontes da SSP, o conteúdo dos bilhetes aponta para desabafos sobre uma possível relação abusiva. Há também mensagens comentando o desempenho sexual de um homem que não é nomeado, mas que pode ser o namorado da jovem, o também médico Rodolfo Cordeiro Lucas, suspeito de ter jogado Sáttia da janela do quarto.
Rodolfo Lucas chegou a ficar preso sob a acusação de tentativa de feminicídio, mas teve a prisão preventiva revogada na manhã de segunda-feira (27), após decisão do juiz Vilebaldo José de Freitas Pereira. Na decisão, o magistrado aponta a inexistência de provas materiais e indícios que comprovem que ele a jogou da janela. O médico, por sua vez, afirma que a namorada se jogou da varanda e que tinha depressão.
Além dos bilhetes, objetos e móveis desarrumados somam-se ao quebra-cabeças do inquérito instaurado na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) de Brotas. Remédios, alguns controlados, e uma mancha de sangue também foram encontrados em um dos quartos do apartamento.
Papel Ofício
Escritos em pedaços de folhas de ofício, os bilhetes estavam em um canto da sala, uns sobre os outros, e, devido a posição em que foram encontrados, teriam sido retirados de uma bolsa, que estava sobre uma cadeira. Eram cerca de cinco bilhetes, escritos nos meses de maio e junho, com as datas. Alguns contendo rasuras, outros com frases incompreensíveis.
No entanto, segundo as fontes da SSP, alguns textos seriam reproduções de diálogos que a médica teve com pessoas por telefone. Em uma havia a frase: “Não fui eu quem cancelou. Quem cancelou foi ele”. Nesse contexto, no entendimento das fontes, é como se ela se justificasse do que não fez, como deletar nomes da agenda do celular. Em outro trecho, a frase “As perigosas vai cancelar” (sic), seria o momento em que ela reproduz uma fala que a obriga a se afastar de algumas amizades.
Foram encontrados também mensagens para um homem. Em uma delas, Sáttia dá a entender que ele “era um monstro” e ela não o conhecia direito. Ainda sobre a mesma pessoa, a médica fala do desempenho sexual: “Ele é ruim de cama”.
Varanda
As fontes da SSP disseram ao CORREIO que encontraram a sala desarrumada – o apartamento é composto por três quartos, sendo uma suíte, sala, cozinha e outro banheiro. Havia roupas pelo chão, almofadas jogadas, dando a impressão de que realmente houve uma discussão acalorada momentos antes da médica despencar do quinto andar, conforme relato dos vizinhos e do próprio Rodolfo.
Na sala, o que chama a atenção é a varanda. A janela é de correr e parte dela estava forçada. Na mesma direção havia um vaso grande caído no chão. O cenário sugere que teria ocorrido uma briga no espaço.
Ainda na sala havia remédios espalhados, com o Diazepam, medicamento controlado prescrito por psiquiatras para tratamento de ansiedade, síndrome do pânico e outras questões psicossomáticas ligadas a transtornos ansiosos.
Uma mancha de sangue foi encontrada em um lençol de cor escura no quarto de onde Sáttia caiu. A quantidade era pequena e, segundo as fontes da SSP, não parecia ter jorrado ou ser efeito de algum objeto cortante. Ou seja, o corte não teria sido provocado por uma luta corporal e sim resultado de um acidente. No entanto, só o laudo poderá apontar de quem é o sangue e quais as circunstâncias da mancha. Nos outros dois quartos e na cozinha não houve nada que chamasse à atenção dos policiais.
Segundo o depoimento de Jacqueline, Rodolfo Lucas controlava as roupas que Sáttia vestia. Por causa do namorado, a médica teve que sair da academia de ginástica e desativar as redes sociais. O motivo seria o ciúme do médico.
Logo depois da queda de Sáttia Lorena da janela do quinto andar do prédio onde mora, em Armação, um primo da jovem, o advogado Anderson Moreira também havia afirmado ao CORREIO que a moça teve de sair de todas as suas redes sociais por causa do namorado. Ainda segundo o primo, a relação era abusiva e a médica chegou a dizer várias vezes que havia terminado o relacionamento, mas voltava atrás porque Rodolfo dizia que ia mudar de comportamento. “Era sempre assim. Ele chegava chorando e ela perdoava".
*Conheça 10 sinais de uma relação abusiva:
1 - Transformar incidentes insignificantes em motivos para grandes discussões;
2 - Ameaçar ferir amigos e pessoas da família se a vítima não faz o que o agressor quer;
3 - Ter acessos súbitos de raiva e ciúmes sem motivo;
4 - Usar intimidação ou manipulação para controlar a vítima ou os filhos do casal;
5 - Não deixar a vítima visitar familiares e amigos; afastá-la de todas as pessoas em quem ela confia;
6 - Destruir propriedades ou objetos pessoais da vítima, principalmente aqueles de valor sentimental para ela;
7 - Não deixar a vítima estudar, trabalhar ou ter qualquer tipo de realização pessoal;
8 - Xingar ou chamar a vítima por nomes pejorativos e que a desqualificam como pessoa ou profissional; humilhá-la na frente de outras pessoas;
9 - Controlar o dinheiro da vítima, obrigando-a a prestar contas de cada coisa que ela gasta e humilhá-la negando até itens básicos;
10 - Ameaçar ferir a vítima ou os filhos com frequência; bater, empurrar, morder ou qualquer outro ato de agressão
*Fonte: agenciajovem.org.br
“Nós também pedimos que seja disponibilizado nos sites das instituições um modelo de pedido de medida protetiva. Se a mulher tiver isso à disposição, já adianta um passo”, explica a promotora Sara Gama, coordenadora do Gedem.
Segundo a promotora, a pandemia trouxe pelo menos quatro fatores de risco às mulheres que convivem com seus agressores: o próprio isolamento, o consumo de álcool e drogas, desemprego e comportamento controlador. Por causa da vigilância dos agressores, a promotora acrescenta que é importante que os canais não presenciais de denúncias sejam divulgados (veja abaixo).
SAIBA COMO DENUNCIAR DE FORMA NÃO PRESENCIAL:
A rede de proteção à mulher é formada por diversas entidades como o Tribunal de Justiça, Ministério Público, Defensoria Pública, Secretaria de Segurança Pública, dentre outras.
Central de Atendimento à Mulher - Disque 180
Polícia Militar - Disque 190
Defensoria Pública da Bahia - Disque 129 ou 0800 071 3121
Chatbot no Facebook da Defensoria: https://www.facebook.com/defensoria.bahia/
Correio
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