Os
professores da rede pública municipal e estadual entraram em contato
com a redação do Rota 324 pedindo espaço para publicar uma nota em
repúdio ao comportamento do radialista Eraldo Maciel da Rádio Serrana
Líder FM.
Segue na íntegra o conteúdo da nota:
NOTA DE REPÚDIO AO RADIALISTA ERALDO MACIEL E SOLICITAÇÃO DE RETRATAÇÃO PÚBLICA À RÁDIO SERRANA FM
Ilustríssimo “forasteiro”, seja bem vindo à Cidade do Ouro!
Boas-vindas
devidamente pronunciadas. Agora, ponha-se no seu lugar, aja tal qual um
verdadeiro locutor deveria agir, use a sua ferramenta de trabalho, seu
poderoso microfone, mas como um “profissional” de comunicação de verdade
usa: com o maravilhoso dom da escuta, aprendido na escola, com algum
professor. Afinal, para toda argumentação, há sempre uma
contra-argumentação.
Segundo
um radialista da nossa cidade – e também professor – “mais do que uma
bela voz, o locutor tem que exercer a cidadania com ética e educação,
esquecer os palavrões e as histórias de mau gosto e a banalização de
determinados problemas. A atividade de radialista, de acordo as normas
de conduta do radialista, deve reservar tratamento isonômico e justo
para autoridades, partidos políticos e instituições religiosas
convidadas a participar da programação do rádio, sem distinção de
qualquer natureza, seja raça, cor, gênero ou religião”.
Dito
isto, vamos aos fatos. Professores das redes municipal e estadual de
ensino irão aderir à GREVE NACIONAL, convocada pela Confederação
Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), que ocorrerá nos próximos
dias 17 (segunda-feira), 18 (terça-feira) e 19 (quarta-feira), com os
mesmos motivos das lutas e greves de dois, três anos atrás: 1. Royaltes
do petróleo investidos na valorização dos educadores; 2. Carreira e
jornada para todos os profissionais da Educação; 3. Contra a proposta de
reajuste dos governadores e o INPC; 4. 10% do PIB para a Educação
Pública; 5. Pelo cumprimento da Lei do Piso; 6. Votação imediata do
PNE.
A
greve, que infelizmente – ou felizmente! - ocorre uma semana depois do
início do ano letivo, deixando alunos e professores em estado de alerta,
pois são justamente os que mais sofrem com as greves, que acabam por
comprometer todo o ano letivo. No ano passado, por exemplo, em face da
greve histórica de 2012, os alunos concluintes do Ensino Médio, apenas
puderam concluir o ano letivo em janeiro deste ano em curso. Um absurdo,
realmente, mas por outro lado, temos também que entender que a Educação
Pública não parece ser prioridade para os governos. Algumas escolas e
colégios públicos estão caindo aos pedaços, muitos professores continuam
com salários baixos, sem reajustes há um bom tempo e enfrentando uma
situação de desestímulo profissional.
No
dia 14 deste mês, o representante do Sindicato dos Professores de
Jacobina (APLB/Sindicato), esteve nesta Emissora de Rádio, e não só ele,
mas toda a população, aguardavam uma entrevista interessante,
inteligente, questionadora e que realmente informasse os porquês desta
GREVE. No entanto, o que ouvimos foi uma verdadeira aula de antiética,
deseducação e, por que não dizer, de deselegância profissional por parte
do radialista de plantão, para com o nosso representante sindical. Este
foi humilhado, desconvidado (Sic) palavra do próprio radialista.
Como
toda pessoa que se dirige para uma entrevista numa emissora de rádio, o
representante sindical esperava ser respeitado, ter seu direito de
expor as dificuldades da categoria, explicar os porquês da greve, ser
questionado de forma educada, mas não foi isso o que aconteceu. Esse ato
foi uma surpresa para muitos que acompanham as programações das rádios
locais, marcadas por boas entrevistas, com bons questionamentos dos
profissionais. Isso não aconteceu nesse programa de rádio. Todos ouviram
em claro e bom tom, o radialista afirmar que não tinha interesse nas
palavras do nosso representante sindical, não deixou o mesmo falar e se
defender dos ataques recebidos pelo radialista, que a todo o momento,
gritava que o programa era dele, dentre outras coisas.
Aprendemos
na escola os conceitos éticos do bom profissional. Mas, entretanto e
paradoxalmente, os professores brasileiros nunca foram devidamente
valorizados pelos governantes. Entretanto, não é por isso que devemos
aceitar que nos joguem pedras. Devemos, com certeza, continuar ensinando
a todas as pessoas a ouvir, entender e compreender os demais, na linha
da famosa frase do filósofo francês Voltaire: "Posso não concordar com
nada do que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de
dizê-lo". Esse direito não aconteceu nesse programa de rádio, e em face
disso, exigimos da Rádio e do radialista uma retratação pública.
O
rádio deve ter uma linha de ação norteadora a todos os que têm
compromisso com o microfone. Não só o repórter, o redator, mas
principalmente o locutor, deve mensurar o que vai expor aos seus
ouvintes. O radialista, seja qual for o seu campo de atuação, tem o
dever de cultivar a precisão, a clareza, a objetividade, a seriedade.
Alguns radialistas são chamados à atenção com relação a isso e sabem o
que dizem? Ou estão a afirmar aquilo que acham que o povão – e os
políticos que os patrocinam – gostam?
Se
há erros em nosso movimento, e provavelmente há, temos que entender
todo o contexto dessa história, quais são os verdadeiros culpados da
Educação Pública estar na UTI. E veremos que não são os professores os
culpados, pois fazemos até muito mais do que aquilo que devíamos fazer,
quando somos transformados em psicólogos, médicos e babás, tomamos conta
dos filhos dos outros, de pais que nunca aparecem na escola para
resolverem os problemas dos filhos; alguns sabem que os meninos estão na
escola, não importa fazendo o que, pois acham que o professor que deve
se virar. Sofremos com baixos salários, a falta de valorização e ainda
não temos o direito de fazer greve, de expor nossos problemas? Temos o
nosso representante calado por um radialista que se diz paladino da
verdade, herói do povo?
Que
moral tem o senhor Eraldo, para falar de uma classe que serve a tantas
outras? Profissionais que têm jornadas de 20, 40 e até 60 horas, que
vivem numa luta diária por uma aprendizagem efetiva, que enfrentam os
mais variados obstáculos, e nem assim fraquejam, muito pelo contrário,
vão atrás dos sonhos, estão lá, todos os dias, em frente a uma sala de
aula com 40, 50 alunos, sua filha inclusive, um deles.
Até
compreendemos que a atitude do nobre radialista, pelo seu tom de voz,
representava a sua indignação pessoal, com relação ao estudo de sua
filha, “ah minha filha está sendo prejudicada, não há aulas no
Deocleciano”, etc. e coisa e tal. Mas se a “coisa” está tão ruim assim,
se os professores são incompetentes, querem viver de greve coisa e tal,
porque o senhor não coloca sua filha numa instituição particular, e
então não vai ter mais problemas? Pronto, questão resolvida, mas não é
por aí, nobre profissional, primeiro o senhor tem que aprender a ter
Ética. Segundo o Aurélio, a Ética é a ciência da moral. Assim sendo, ela
deve estudar os bons costumes, o cabível, o que não agride nem denigre
algo ou alguém. Uma conduta ética é aquela que respeita tudo isso; e um
código de ética é uma série de preceitos que pregam o respeito aos
valores de uma sociedade.
Nosso
momento é outro, não vivemos mais numa ditadura militar, mas mesmo
assim, parece que estamos lidando com “ditadores da comunicação”, que
não deixam as pessoas, representantes sindicais exporem suas opiniões. A
velha lei Assis Chateaubriand, grande comunicador da primeira metade do
século XX, ilustrava isso com uma simples frase: “Se quer ter opinião,
compre um jornal”. Alguns profissionais de rádio (ainda bem que toda
regra tem sua exceção) são intolerantes, não deixam que outras pessoas
expressem uma opinião diferente...
A
democracia existe justamente para nos ensinar que "existem os dois
lados da moeda", porém não pudemos nos calar com esta situação, onde nos
sentimos profundamente ofendidos e desrespeitados. Portanto, e por tudo
o que foi exposto, exigimos desta Rádio e deste radialista uma
retratação pública.
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