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Família tem a casa furtada por policiais militares e vai à Corregedoria da PM: 'Tenho medo'

 


Uma família de moradores da comunidade Vila Aliança, na Zona Oeste do Rio, teve a casa revirada e furtada por policiais militares, sem mandado de busca ou flagrante. O episódio ocorreu na última segunda-feira (7), enquanto a PM fazia uma operação na comunidade. O morador não estava em casa, mas acompanhou a invasão por meio de um aplicativo que mostra imagens capturadas em tempo real. As imagens mostram os agentes revirando coisas dentro da casa e fazendo alguns comentários.

A família esteve na corregedoria da PM para falar sobre o caso, na tarde desta quinta-feira (10). Eles disseram que estão com medo de represálias por conta da denúncia.


"Eu e a minha esposa, a gente tem um pouco de medo. Tem muito medo de represálias futuras. Inclusive, a gente pensa, já, né, num projeto de estar se mudando pra evitar que isso aconteça futuramente", disse.

O morador explicou aos investigadores que instalou câmeras de segurança em sua casa depois que o imóvel foi invadido em outras 10 ocasiões. Os policiais envolvidos já foram identificados, afastados das ruas e passarão pelo Conselho Disciplinar.



"A Polícia Militar deve um pedido de desculpas pra mim, pra minha família e para toda a comunidade, onde há muitos cidadãos de bem, trabalhadores que acordam cedo para buscar o seu pão de cada dia", completou o morador.


O flagrante feito pelo morador mostra dois policiais militares do Batalhão de Ações com Cães (BAC) circulando dentro do imóvel portando fuzis.


A própria PM reconheceu, em nota, que os policiais agiram de forma ilegal porque não havia mandado de busca e apreensão pra aquele endereço ou flagrante que justificasse a entrada dos militares.


Nas imagens feitas na residência, os PMs aparecem furtando uma caixa de som, um vidro de perfume, um quilo de carne congelada e oito caixinhas de água de coco.


"Eu não tenho nenhum mandado de prisão, nenhum mandado de busca e apreensão. Sou uma pessoa limpa. Trabalho. Minha esposa também", disse o morador, sem revelar sua identidade.

O o porta-voz da PM, tenente-coronel Ivan Blaz, disse que a denúncia é grave e que a Polícia Militar vai agir com velocidade nas investigações.


"Os policiais militares que estão no vídeo já foram identificados e já estão afastados dos serviços das ruas e serão submetidos ao Conselho de Disciplina, que pode determinar até mesmo a exclusão das fileiras da corporação. A denúncia é grave. A corporação vai agir com velocidade, uma vez que é totalmente inadequado e inaceitável esse tipo de conduta", disse o porta-voz da PM, tenente-coronel Ivan Blaz.



Morador acompanhou por aplicativo

Na última segunda-feira (7), enquanto a PM fazia uma operação na comunidade, o morador, que não estava em casa, acompanhou por um aplicativo os PMs mexendo em suas coisas.


Sem desconfiar que estavam sendo filmados, os dois policiais começam a mexer nos objetos da casa. Um deles brinca com uma garrafa de whisky.


- Aí, ó.

- Que isso, aqui?

- Black Label?


Os policiais ironizam a bebida porque em uma outra garrafa havia chá no lugar do whisky original.


"Aí, isso aqui também tá aberto. Ih, tá esculachado já essa p*", diz um dos policiais.


Em outro momento, ao encontrarem uma caixa onde estavam guardados jogos de videogame, o policial desdenha.


"Cheio de jogo maneiro (inaudível). Só que é Xbox", completa o PM.


Um terceiro PM aparece na imagem e continua com o deboche na casa do morador.


- Pra não falar que não te dei nada na vida.

- Caixinha, né? Essa é boa, é JBL!


Nem mesmo a geladeira da família deixou de ser revistada pelos PMs durante a invasão.


- Casa de luxo! Chega aqui. Vem ver a geladeira pra tu ver se é ou se não é.

- Cadê?

- Dá o veredito aqui.

- Ah, é.

- Não vou levar cerveja, não. Se quiser levar!



Acesso à residência só com mandado ou em flagrante

Os moradores da Vila Aliança que tiveram sua casa invadida estão sendo acompanhados pelo advogado criminalista William Brand. Segundo ele, agentes de segurança só podem entrar em uma casa com mandado de busca e apreensão ou se observarem um flagrante delito.


"Para que haja o acesso à residência de um cidadão, é necessário que esteja ocorrendo um flagrante delito ou que esse policial porte um mandado judicial, tanto de busca e apreensão quanto de prisão pro endereço certo", explicou William Brand.

O que diz a PM

O porta-voz da PM, tenente-coronel Ivan Blaz, afirmou em entrevista que o comportamento dos policiais é "inaceitável". Segundo ele, pode até ser caso de expulsão.


“Assim que o secretário de Polícia Militar, coronel Luiz Henrique Mario Filho, recebeu as imagens, através da matéria, ele já colocou a Corregedoria da PM no caso, os policiais serão identificados. Assim que forem, serão afastados das ruas e serão submetidos a conselho de disciplina, que pode suscitar até em expulsão”, disse Blaz.


Em nota, a Secretaria de Estado de Polícia Militar informou que o comando da Corporação não compactua com desvios de conduta cometidos por seus entes, punindo com extremo rigor os envolvidos quando constatados os fatos.



"Os policiais envolvidos na ação do último dia 7 de fevereiro, que foram filmados no interior de uma residência na Comunidade da Vila Aliança, situada na Zona Oeste da Cidade do Rio, pertencem ao Batalhão de Ações com Cães (BAC) e já foram identificados. Os militares foram convocados para prestar depoimento de imediato e já estão afastados de suas funções".


"A SEPM ressalta que não há em qualquer outra instituição pública ou privada do país uma corregedoria tão atuante como a de Polícia Militar do Rio de Janeiro. Somente nos últimos 10 anos, a corporação excluiu de suas fileiras 1.536 maus policiais, no que representa uma média anual de cerca 153 militares desligados. Apesar do número expressivo, os policiais militares que cometeram esses atos inaceitáveis representam uma minoria no universo da Corporação: menos de 0,3%."


O comando da Corporação orienta ainda que a população formalize toda e qualquer denúncia relativa a conduta de policiais militares através de nossa Corregedoria, pelo telefone (21) 2725-9098, pelo whatsapp 21 97598-4593 ou ainda pelo e-mail denuncia@cintpm.rj.gov.br.


G1

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