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Família acusa escola de impedir entrada de estudante que morreu atropelado Pau Miúdo

Eram 8h. Ele queria comprar pão e ir à escola. Mas a vida do estudante José Rebelo de Silva Neto, 13 anos, parou no meio do caminho, na Rua Marquês de Maricá, no Pau Miúdo. O caminhão-baú  que o atropelou parou alguns metros à frente, após o condutor, Antônio José Muniz dos Santos, 63 anos, ouvir o som do impacto do corpo do jovem. 

Segundo informações da 37ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM/Liberdade). Zezinho, como era conhecido, andava de bicicleta ao lado do caminhão, um Mercedes Benz branco, (JMQ-9959), que fazia carreto, quando perdeu o equilíbrio e foi atropelado pelo veículo. Segundo a 37ª CIPM, a maioria das testemunhas afirma que o garoto estava apenas emparelhado com o caminhão, no entanto, há outra versão também de pessoas que viram o acidente de que o adolescente seguia com uma das mãos apoiada no veículo. 

Em estado de choque após perceber o que havia ocorrido, Antônio foi socorrido pelo Samu no local e encaminhado por PMs para a 2ª Delegacia (Liberdade), que investigará o acidente. Ele foi ouvido e liberado. “Tenho que verificar o que ele alegou, mas provavelmente isso será enquadrado em crime de trânsito. Provavelmente um homicídio culposo, a não ser que após a perícia se constate bebida ou alta velocidade”, disse o delegado Sálvio Martins, plantonista da 2ª DT.

Segundo a família e os vizinhos, José tinha ontem ido ao Centro Educacional Carneiro Ribeiro – Classe III, onde cursa o 6º ano, que fica próximo ao local. Desde o dia anterior, no entanto, o garoto foi avisado de que só entraria ontem na escola se já estivesse com o Diário Escolar 2013 em mãos. 

“Disse a ele que fosse sem e que se barrassem na porta da escola, ele me chamasse que eu iria resolver. Não foi nem pelos R$ 4, mas não podiam mandar o aluno voltar para casa só por não ter caderneta”, disse Consuelo da Silva Bacelar, 27, prima do jovem, referindo-se à taxa cobrada pela caderneta amarela, com folhas para registro da frequência dos alunos.

Como Zezinho foi novamente impedido de entrar, voltou para casa conforme combinado. “Eu disse que ia subir com ele no colégio, mas aí ele falou que ia comprar pão enquanto eu ia lá”, contou Consuelo, chorando. “Se ele estivesse na escola, isso não teria acontecido. Eles mandaram mais de cem alunos embora ontem por causa dessa caderneta, é um absurdo! Quem tem que dar isso é o governo”, reclamou Michele Santos, vizinha da família, cercada de alunos da instituição que confirmavam o ocorrido.  

Os moradores pretendem fazer um protesto na porta do centro educacional, hoje, às 6h. A direção da escola não atendeu à imprensa.

Procurada pelo CORREIO, a Secretaria de Educação do Estado (SEC) informou que uma equipe do órgão foi até a escola e que alunos e o segurança da instituição disseram que o aluno não foi para a escola ontem nem esteve na entrada. Ainda de acordo com a SEC, foi confirmado que o diário escolar foi produzido em parceria entre a secretaria e uma empresa fabricante e que o uso não é obrigatório. 

Segundo o Instituto Médico-Legal Nina Rodrigues (IML), o  corpo só deu entrada no órgão às 14h45.  Às 13h15, enquanto o corpo ainda não havia sido removido, muitos moradores e estudantes das escolas do entorno – vizinho à Classe III está o Colégio Estadual Marquês de Maricá – se aglomeravam no local do acidente. 

Uma amiga e colega de classe, Thaís Coelho, 14, acompanhava de perto a movimentação e, muito emocionada, só conseguiu dizer que Zezinho era uma boa pessoa. Como o pai da vítima, José, estava muito abalado, o tio do rapaz, Cláudio da Silva, aguardava a chegada da equipe do Departamento de Polícia Técnica (DPT). “Era um menino bom, comportado, muito obediente e era superinteligente. O plano dele era só crescer, se desenvolver. Ele sabia mexer em bicicleta, em eletrônicos, estava até ontem mexendo nessa bicicleta velha e aí aconteceu isso hoje”, lamentou. 

José, que sonhava ser eletrotécnico, morava com o pai, a avó, três primas e dois tios. A mãe do jovem, Silvana, mora em Várzea do Poço, a 331 quilômetros de Salvador. O data e local do sepultamento  não foram definidos.

Correio

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