A fama da cratera de 30 metros de comprimento,
15 de largura e, agora, quase 9 de profundidade, que se abriu no Km 618
Oeste da BR-324, no dia 5 de junho deste ano — e continua por lá —,
corre longe. Mas, definitivamente, o ‘buraco-pai’ das redondezas não
está sozinho. A rodovia que liga Salvador a Feira de Santana tem
buracos, buraquinhos e buracões. São pelo menos 517 nas duas pistas. E,
sim, eles foram contados ontem pela reportagem do Correio. Mas não fomos
os primeiros. O professor Antônio Freire da Silva Neto também contou os
buracos, na segunda-feira passada. Ele vai a Feira de Santana toda
semana, desde outubro do ano passado, a trabalho ou para visitar
familiares. “Na segunda-feira, como o trânsito estava bem lento, fui
contar. É tanto buraco que tem trechos em que só dá para andar bem pela
pista da esquerda”, disse. No trajeto de 108 quilômetros entre Salvador e
Feira, Antônio contou 244 buracos. No sentido inverso, 188. “A gente
paga R$ 7,20 toda vez que vai pra Feira e volta. Para uma pista toda
pedagiada, eu posso dizer que estou muito insatisfeito”, disse.
Ele
comparou a situação da rodovia com a Linha Verde, também pedagiada, que
corta o Litoral Norte e segue até Sergipe. “Eu dou aula em Aracaju e
vou uma vez por mês. Eu pago e fico satisfeito, porque tem sinalização,
tem telefone de emergência. Agora, a gente vai pra Feira e um trecho tão
curto está estragado daquele jeito”, disse. Na BR-324, a tarifa para
automóveis é de R$ 1,80 por praça. De Salvador a Feira, há duas praças.
Na Linha Verde, R$ 4,60 em dias úteis.
Contagem
O
intervalo entre as duas contagens foi de quatro dias. Ontem, no mesmo
trecho percorrido pelo professor (Salvador-Feira), o CORREIO contou 327
buracos. No sentido inverso, foram 190. Muitos deles são pequenos, mas
ficam próximos, formando um grupo de buracos. Em número menor e mais
distante uns dos outros, há buracos que obrigam os condutores a desviar.
A maior parte das aberturas grandes — 15 no sentido Feira e 28 no
sentido Salvador — fica no acostamento, mas, em alguns casos, já
começam a invadir a pista. Caminhoneiro há
30 anos, Natanael dos Santos, 55, não gosta do que enfrenta
diariamente. “Para uma pista pedagiada, deveria estar melhor. Aqui, a
gente paga para andar no buraco, isso não é condição de asfalto”, disse.
Segundo Natanael, a buraqueira, além de dar prejuízo aos motoristas,
acaba causando engarrafamento. “Prejuízo com pneu é certo. Aqui, está em
tempo de voar os parafusos”, relatou. Os
desníveis na pista, segundo o professor Antônio Freire, não mexem
somente com a paciência dos motoristas, mas também com o bolso. Usando a
rodovia pelo menos uma vez por semana, ele já precisa reservar cerca
de R$ 150 por mês para fazer
alinhamento e balanceamento. “Não tem jeito, porque, se não fizer, tem
que trocar o pneu, e aí é bem mais caro”, reclamou.
Pista irregular
Mesmo
nos trechos onde não há mais buracos, os solavancos ainda são sentidos.
Isso porque, nos muitos lugares onde os buracos foram tapados, a pista
ficou irregular. Há lombadas em quase toda a extensão, especialmente em
pontos como a foto na página anterior, onde o asfalto parece ter sido
colocado diretamente no buraco. Apesar
disso, para a Polícia Rodoviária Federal (PRF-BA), a situação já foi
muito pior. De acordo com o chefe do Núcleo de Policiamento e
Fiscalização do posto da PRF-BA de Simões Filho, Marcos Alves, a relação
entre acidentes e buracos é baixa hoje, se comparada há alguns anos. “As
pessoas ainda reclamam, falam de pneu rasgado, dos buracos, da pista
irregular, mas há quatro ou cinco anos a superfície da lua era mais lisa
do que essa rodovia”, disse Alves. Segundo ele, grandes buracos
costumam ficar abertos por dois ou três dias até serem fechados pela Via
Bahia.
Embora
a maior parte da rodovia mostre reparos emergenciais, há trechos em que
o recapeamento está sendo feito por completo, especialmente nos lugares
mais críticos. É o caso do Km 570, na pista sentido Salvador. A pista
está em melhores condições do que no sentido inverso, mas ainda há com o
que se preocupar. Por meio de assessoria,
a Via Bahia disse que priorizou, nos últimos meses, a BR-116, que vai
de Feira de Santana a Minas Gerais. Agora, a concessionária informa que
voltará as atenções para a BR-324. Ainda segundo a Via Bahia, o trabalho
agora será de recapeamento, que deverá ser concluído até o final de
2014.
IBAHIA
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