Cartório de Jacobina e de mais 223 cidades devem fechar as portas após projeto de lei do governo do estado




De certidão de nascimento até registros de imóveis, os cartórios são responsáveis por atos do cotidiano de milhares de baianos todos os dias. Apesar de realizarem serviços essenciais, mais de 60% dos cartórios na Bahia são deficitários e precisam de repasses do Fundo Especial de Compensação da Bahia (Fecom) para manter suas atividades. Agora, um projeto de lei do governo do estado, já aprovado pelos deputados, coloca em risco o funcionamento de cartórios em 224 cidades.

Por lei, 12,2% da receita de cada cartório na Bahia deve ser destinada ao Fundo de Compensação. Esse fundo é responsável por repassar uma espécie de ‘renda mínima’ às unidades deficitárias – ou seja, aquelas em que as taxas cobradas da população não cobrem os custos operacionais. Os repasses podem chegar a R$ 31,8 mil mensais e são fundamentais para manter o funcionamento desses cartórios. O Projeto de Lei nº 25.851 propõe diminuir esse percentual para 9%, o que representa redução de um quarto dos recursos.

A proposta foi aprovada pela Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) no dia 17 de junho, um dia após ser apresentada à Casa pelo governo da Bahia. A medida, que ainda deve ser sancionada pelo governador Jerônimo Rodrigues (PT), surpreendeu a direção do fundo e a Associação dos Notários e Registradores da Bahia (Anoreg/BA), que sequer foram informados.


O problema, segundo as entidades, é que o Fundo Especial de Compensação da Bahia já opera no vermelho, com déficit anual de R$ 40,4 milhões por ano. Uma estimativa prevê o fim do fundo em seis anos e sete meses, se o projeto de lei for sancionado. Sem os recursos provenientes do Fecom, 461 cartórios baianos podem fechar as portas – o que representa 61,3% do total em atividade no estado, que é de 752.


Os cartórios se tornam deficitários quando o valor arrecadado com as taxas pelos serviços não são suficientes para pagar os custos com funcionários e manutenção. A lei também garante gratuidade nos registros de nascimento e óbito, incluindo a primeira via da respectiva certidão, além da primeira via da certidão de casamento. O Fecom também é responsável por garantir o pagamento aos ofícios relativos aos serviços que não são cobrados à população.


“Este projeto compromete a sustentabilidade de um sistema que permite levar cidadania e dignidade às áreas mais pobres da Bahia. Suprimir um quarto das receitas do Fundo vai criar a necessidade de reestruturar novamente o cenário extrajudicial, com a possível extinção de cartórios, como forma de manter o sistema viável”, defende Daniel Sampaio, presidente da Anoreg.


Vai fechar?

As unidades com risco de fechamento estão distribuídas em 224 cidades, de acordo com dados do Fecom obtidos pela reportagem. Entre os municípios impactados estão Salvador, que tem seis cartórios bancados pelo fundo de compensação, além de Lauro de Freitas, Mata de São João, Itaberaba, Jacobina, entre outras. A reportagem questionou o governo do estado sobre a alteração dos repasses ao fundo, mas não obteve retorno até esta publicação.


“Em seis anos, deixaremos de conseguir pagar a renda mínima para o funcionamento dos cartórios, o que vai impactar diretamente nos serviços prestados. Os cartórios oferecem, de forma gratuita, primeira via de certidões de nascimento, casamento e óbito, por exemplo, que são essenciais para a sociedade”, avalia Igor Pinheiro, presidente do Fundo Especial de Compensação da Bahia.


No ano passado, foi sancionada a lei que permitiu a reestruturação dos cartórios baianos de acordo com número de habitantes, o que contribuiu para o fechamento de cerca de 500 unidades em todo o estado. As novas regras estabelecem, por exemplo, que as cidades com população de até 40 mil habitantes tenham um único Ofício com as atribuições de Registro Civil das Pessoas Naturais e Tabelionato de Notas.


“Daqui a pouco, só teremos cartórios em grandes centros urbanos e, infelizmente, a população vai acabar pagando o preço de ficar sem os serviços”, afirma Daniel Sampaio. Mas o problema não é exclusivo do interior. Em Salvador, ao menos seis cartórios recebem repasses do fundo estadual.


Outro ponto questionado pelas entidades é o aumento do valor destinado ao Fundo de Modernização do Ministério Público do Estado da Bahia, que passa a receber 4% de todos os recursos adquiridos pelos cartórios com as taxas pagas pelos serviços. “Existem ações em âmbito nacional que discutem a legitimidade de órgãos que não tem relação com serviços extrajudiciais no recebimento dos recursos, mas ainda não há uma decisão que reconheça a falta de pertinência desses repasses”, detalha o presidente da Anoreg.


Cidades baianas que podem perder cartórios


Jacobina


Feira de Santana


Gavião


Baixa Grande


Antas


Andaraí


Cachoeira


Muritiba


Mairi


Coração de Maria


Valente


Ubatã


Boquira


Cristópolis


Teofilândia


Ubaitaba


Canarana


Conde


Uauá


Belo Campo


Santa Inês


Tanque Novo


Cândido Sales


Retirolândia


Maragogipe


Marcionílio Souza


Uibaí


Serra Preta


Ibititá


Itagi


Capela do Alto Alegre


Brejões


Ituberá


Nova Soure


Iguaí


Central


Paratinga


Pindobaçu


Buerarema


Piritiba


Governador Mangabeira


Wenceslau Guimarães


São Francisco do Conde


Mutuípe


Rodelas


Cipó


Pindaí


Iraquara


Serrolândia


Tremedal


Boa Nova


Abaré


Laje


Milagres


Igaporã


Palmeiras


Condeúba


Presidente Jânio Quadros


Itaeté


Chorrochó


Iramaia


Queimadas


Morpará


Nordestina


Anagé


Pilão Arcado


Terra Nova


Itiúba


Santa Bárbara


Madre de Deus


São Felipe


Macururé


Rio do Antônio


Tanhaçu


Taperoá


Ituaçu


Itapebi


Ibirataia


Ibiquera


Itajuípe


Várzea do Poço


Saúde


Jussara


Lapão


Santa Teresinha


Barra do Mendes


Paramirim


Curaçá


Boa Vista do Tupim


Urandi


Cotegipe


Sapeaçu


Jacaraci


Irecê


Itapetinga


Itaberaba


Caetité


Santo Antônio de Jesus


Prado


Itanhém


Nazaré


Santa Maria da Vitória


Ibotirama


Irará


Entre Rios


Camacã


Ilhéus


Jequié


São Sebastião do Passé


Itororó


Esplanada


Mata de São João


Porto Seguro


Xique-Xique


Buerarema


Morro do Chapéu


Olindina


Serra Dourada


Ibicaraí


Jeremoabo


Ruy Barbosa


Brumado


Valença


Poções


Cícero Dantas


Paripiranga


Ibirapuã


Caravelas


São Gonçalo dos Campos


Ibitiara


Ribeira do Pombal


Castro Alves


Paulo Afonso


Senhor do Bonfim


Caculé


Itaparica


Bom Jesus da Lapa


Ichu


Alagoinhas


Carinhanha


Alcobaça


Santa Rita de Cássia


Itamaraju


Rio Real


Camamu


Palmas de Monte Alto


Piatã


Muniz Ferreira


Serrinha


Macarani


Uruçuca


Belmonte


Mucuri


Campo Formoso


Teixeira de Freitas


Santana


Livramento de Nossa Senhora


Luís Eduardo Magalhães


Guanambi


Tucano


Macaúbas


Salvador


Dias D’Ávila


Simões Filho


Euclides da Cunha


Casa Nova


Amargosa


Jaguaripe


Capim Grosso


Jaguaquara


Barro Preto


Juazeiro


Sobradinho


Glória


Botuporã


América Dourada


Mundo Novo


Monte Santo


Conceição do Almeida


Jiquiriça


Ibicuí


Pé de Serra


Ibirapitanga


Barra


Santo Amaro


Souto Soares


Itiruçu


São José do Jacuípe


Rio de Contas


Itapitanga


Lençóis


Aurelino Leal


São Domingos


Araci


Presidente Dutra


Mucugê


Wanderley


São Gabriel


Itagibá


Itanhém


Itabela


Lauro de Freitas


São Félix


Licínio de Almeida


Cocos


Quixabeira


Angical


Itagimirim


Aporá


Itaquara


Acajutiba


Nova Canaã


Conceição de Feira (Apesar de constar no documento, o nome oficial é Conceição da Feira)


Nilo Peçanha


Nova Fátima


Jitaúna


João Dourado


Una


Formosa do Rio Preto


Santa Luzia


Conceição do Jacuípe


Guaratinga


Pau Brasil


Malhada



Reportagem: Maysa Polcri | Correio

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