Primeira mina subterrânea de diamante do Brasil será na Bahia

 


A maior produtora de diamantes do Brasil planeja entrar em uma segunda fase de operação no país. Para ampliar a vida útil do depósito que explora desde meados de 2016, a canadense Lipari se prepara para construir a primeira mina subterrânea de diamantes em território brasileiro. Pelas projeções iniciais, os túneis poderão alcançar 450 metros de profundidade e o investimento necessário poderá chegar a US$ 10 milhões.

A Lipari já havia quebrado um paradigma na produção diamantífera brasileira quando deu início à produção comercial da mina Braúna 3. Até então, o Brasil nunca tinha tido uma mina de diamantes de proporções industriais como a que a companhia fez no interior da Bahia.


Desde o início do século 18, a produção dessas pedras vinha sendo feita em camadas superficiais, chamadas de aluvião em leitos de rios ou em escavações na terra.


Diferentemente dos aluviões, os diamantes do projeto Braúna foram extraídos de um kimberlito - que é a formação geológica subterrânea em formato de cone pelo qual parte dos diamantes formados nas profundezas é carregada até a superfície. Mineradoras de diamantes pelo mundo exploram kimberlitos porque têm potencial para concentrar quantidade maior de pedras do que os aluviões.


Com os anos, a mina a céu aberto da Lipari - localizada numa área rural do semi-árido baiano, no município de Nordestina - foi sendo aprofundada. Hoje os caminhões circulam pela cava a uma profundidade de 250 metros. É uma das minas a céu aberto mais profundas do Brasil, estima o geólogo canadense Kenneth Johnson, que comanda a empresa. Em seis anos de atividade, a Lipari informa ter produzido em Nordestina 1,1 milhão de quilates de diamantes. Mas agora a mina chegou a seu limite.




“A atividade da mina a céu aberto acabou. A gente minerou o máximo que podia”, disse Johnson ao Valor. Os últimos movimentos de produção devem acontecer em julho. “Agora o custo [para continuar produzindo como mina a céu aberto] seria muito alto porque já está muito fundo”.


A transição da atual estrutura para uma de mina subterrânea permitiria o acesso a mais áreas e mais profundas, de modo a compensar os custos operacionais. “É a única forma que a gente consegue continuar sendo economicamente viável. E essa transição para uma mina subterrânea é normal”, continua o geólogo, citando estruturas a céu aberto no Canadá e na África do Sul onde essa mudança também ocorreu.

“Depende da questão econômica, mas provavelmente [iremos] mais 200 metros para baixo”, disse Johnson.


Se for de fato feita, será a primeira mina subterrânea do país com proporção industrial em três séculos de exploração de diamantes no Brasil. E dará mais três ou quatro anos de operação do depósito kimbelítico Braúna 3, o maior de um total de 22 depósitos que a empresa informa ter na sua área na Bahia.


Desde que começou a operar, a Lipari se tornou o principal nome na produção de diamantes do Brasil. Em 2017 e em 2018, quando toda a produção nacional legal girou em torno de 250 mil quilates por ano, somente a Lipari produziu 230,9 quilates e 204,8 quilates, respectivamente. Em 2021 (último ano com dados oficiais disponíveis), quando a produção da Lipari foi para 134,9 quilates, a produção nacional ficou em 143 quilates. Entre 2016 e o primeiro trimestre de 2023, a receita bruta da empresa com produção e exportação de diamantes foi de US$ 200,4 milhões.


Em volume, o Brasil é um produtor pouco relevante no mercado de diamantes. A reputação do país é de um produtor de diamantes especiais, coloridos. Raridades descobertas de tempos em tempos. Recentemente, um diamante rosa extraído em Minas Gerais em 2007 foi leiloado em Genebra e adquirido por um colecionador asiático por US$ 28,8 milhões.

Mas em quantidade, o Brasil não tem destaque. Os maiores produtores têm sido por anos Rússia, Botswana, Canadá, República Democrática do Congo e Austrália. Dados agregados globais de 2021, os últimos disponíveis na plataforma do Processo Kimberley - que regula o comércio de diamantes brutos - aponta que naquele ano, a Rússia produziu 39,1 milhões de quilates de diamantes, liderando, com folga, entre os grandes produtores.


Os diamantes da Lipari são cortados, lapidados e comercializados em Antuérpia, Dubai e Índia. Três dos polos globais da indústria do diamante.


Johnson diz que o projeto de transição para a mina subterrânea deverá consumir até US$ 10 milhões, montante que a companhia inclui nos planos de uma captação total de US$ 25 milhões. Além da mina de Braúna, em Nordestina, a empresa quer se capitalizar para levar adiante um projeto de diamantes em Angola e outro no Canadá.


A Lipari contratou a ERG Securities LLC, filial da ERG Capital Partners [do britânico Eden Rock Group], para angariar US$ 25 milhões em capital. Com escritórios em Toronto, Nova York e Londres, o ERG é um banco de investimento especializado na captação de capital para expansão de pequenas e médias empresas.


O projeto começou a ser apresentado a investidores no início de maio e, segundo Johnson, tem sido recebido com interesse por investidores institucionais e estratégicos. “Esperamos ter o financiamento concluído até mais ou menos o mês que vem”, disse.

Em outro movimento, a Lipari está em um processo de se unir a outra companhia para se tornar uma das empresas listadas na bolsa TSX Venture Exchange, em Toronto. A expectativa é que a transação seja concluída no início do terceiro trimestre, informa a Lipari.


Johnson prefere não fazer previsões sobre o início das obras. Mas diz que assim que o capital estiver disponível e as licenças forem concedidas, a empresa estará pronta para dar novo formato à mina.


Embora não formalmente ainda, a empresa diz que já levou à Agência Nacional de Mineração e ao Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), na Bahia, a intenção de fazer a transição da operação para mina subterrânea. “Estamos preparando a documentação para formalizar essa transição junto aos órgãos responsáveis”, diz Eric Bruno, diretor de Recursos Minerais da Lipari.


A ANM informa não ter registros de planos de investimento privado de outras empresas para produção de diamantes em minas, como a da Lipari.


Fonte Valor Econômico

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