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Olimpíadas Especiais: os atletas que são promessa de medalha para o Brasil

Arquivo Pessoal/Divulgação//Montagem BOL
As Olimpíadas Especiais, chamadas de Special Olympics World Games, promovem o esporte para pessoas com deficiência intelectual e são o segundo maior evento esportivo do mundo, atrás apenas dos Jogos Olímpicos.
A edição 2019 acontece de 14 a 21 de março, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, porém os atletas brasileiros classificados podem ficar fora da competição por falta de verba. Até uma vaquinha virtual foi criada para tentar arrecadar fundos para a viagem.


Conheça a seguir alguns dos esportistas que são promessa de medalha para o Brasil por meio de relatos dos responsáveis pelos atletas. Eles contam a história dos jovens, falam da expectativa pelas Olimpíadas e como o esporte transformou suas vidas.
Carolina Limongi, 21 anos, ginasta de Guaratinguetá (SP) 
Depoimento da mãe, Silvia Limongi, 43 anos, pedagoga   
Divulgação
Carolina Limongi, 21 anos, ginastaImagem: Divulgação
"Chegou o grande dia. Carolina está para nascer, tudo pronto, planejado, já tinha escolhido a escolinha que ela ia ficar após terminar a licença maternidade, já tinha em mente como ela seria, o cabelo, o rostinho, o corpinho, ainda não sabia o sexo, mas tinha certeza que nasceria com tudo certinho, como planejado. De repente, Carol nasce e, quando olho para ela, vejo que era uma criança diferente.
Leiga no assunto, perguntei ao médico: 'Ela se parece com as crianças da Apae'. Fez-se um silêncio total, e o médico, pensativo, me disse: 'É, vamos fazer alguns exames'. Depois disso, tudo que planejei foi modificado, consultas e mais consultas, terapias, e o pior: ela teria que fazer uma cirurgia no coração, não aguentaria completar um ano de idade. E, se não operasse, também teria pouquíssima chance de sobrevivência.
Que nada! Os médicos se equivocaram: Carolina tomou medicação por apenas seis meses, aos poucos recebeu alta da fisioterapia e iniciou a natação. Mais tarde, ela optou pela ginástica rítmica - agradeço até hoje à professora e técnica Elisete Leite pela insistência em levá-la para treinar. Carol era uma menina tímida, insegura, não se relacionava com as outras meninas. Mas, aos poucos, foi se tornando cada vez mais independente, segura, comunicativa, sua coordenação motora melhorou muito.
Sua vida ganhou qualidade, hoje ela acha que pode tudo, nada para ela é obstáculo, encara a vida de uma forma natural como qualquer outra menina de sua idade. E o mais importante: é feliz! 
Carolina superou a todos e a si mesma. Tem participado de várias competições em nível regional, estadual e nacional e, neste momento, está ansiosa por ser uma das atletas que podem representar o Brasil nas Olimpíadas Especiais, em Abu Dhabi. Seria uma grande frustração para ela, que já está preparada, não poder participar deste importante evento."
Paulo Cervantes, 36 anos, nadador de Jundiaí (SP)
Depoimento da mãe, Simone Cervantes, 57 anos, estudante de pedagogia
Arquivo Pessoal
Paulo Cervantes, 36 anos, nadador (ao centro)Imagem: Arquivo Pessoal
"Paulo nasceu com má formação conhecida como atresia do esôfago e passou por diversas cirurgias e uso de sondas. Teve diagnosticada a deficiência intelectual e, mesmo não tendo um parecer final, apresenta aspectos do autismo.
Ainda usava fralda, quando viu passando pela TV um jogo de tênis que o deixou vidrado. Sempre foi um menino fechado. Aos seis anos, ele começou a praticar natação e isso o ajudou a se comunicar e a interagir melhor.
O esporte foi fundamental na vida do Paulinho em muitos aspectos. Além de proporcionar a saúde física, ajudou a melhorar a atenção e concentração na escola. No aspecto emocional, eu posso afirmar que o esporte curou a hiperatividade intensa que ele tinha e desenvolveu sua autoestima. E, no aspecto social, o esporte transformou o Paulinho, que era um menino muito tímido e introspectivo, numa pessoa cordial e alegre.
E, principalmente, o esporte foi fundamental para o Paulinho na recuperação e cura de um câncer. No começo de 2008, a expectativa de participar do primeiro torneio dos Jogos Pan-Americanos de Tênis das Olimpíadas Especiais foi essencial para o Paulinho poder passar pela quimioterapia e se recuperar. E em julho do mesmo ano, ele já estava bem e pôde competir. Foi muito emocionante!
Embora apaixonado pelo tênis, foi por meio da natação (seu primeiro esporte e que nunca deixou de praticar) que surgiu a possibilidade de participar das Olimpíadas Especiais. Nos Jogos Nacionais, o Paulo já coleciona medalhas - em 2017, ficou em 1° lugar no nado Crawl e em 3° lugar no nado Costas; já em 2018, ele melhorou a marca e ficou em 1° lugar no nado Crawl e em 1° também no nado Costas."
Ana Laura Gráglia, 17 anos, ginasta de Guaratinguetá (SP) 
Depoimento da mãe, Tânia Gráglia, 51 anos, escriturária
Divulgação
Ana Laura Gráglia, 17 anos, ginastaImagem: Divulgação
"Quando Ana Laura chegou foi um misto de alegria e dor. Minha primeira filha! Tão sonhada, tão aguardada e tão amada. Assim que chegou no quarto vi que tinha Síndrome de Down e minhas primeiras palavras para ela foram: 'Minha filha, desde antes de sua concepção, eu já te amava, pois eu já havia gerado você em meu coração e, agora, você será ainda mais amada. Seremos seus guardiões'.
Escutei muito 'Ela é doentinha'! No início me senti despreparada, incapaz, e sofri antecipadamente pelos rótulos e preconceito que eu já sabia que iriam lhe impor.
Sempre buscamos oferecer todos os recursos que contribuíssem para seu desenvolvimento cognitivo. Ana foi incluída na escola regular, é alfabetizada, lê, escreve, está cursando o 1º ano do ensino médio. Porém, todo esse processo, até hoje, ainda é muito difícil e doloroso. Ana vive a segregação escolar, pois a escola que deveria ser para todos só funciona como um lindo discurso. As pessoas com deficiência e seus familiares sofrem muito com o preconceito e não existe nada mais deficiente do que este sentimento.
Ana não tem amigas de sua faixa etária, e as poucas meninas ou meninos que a conhecem quase não a chamam para nada e nem têm muita paciência para incluí-la nas atividades.
Com aproximadamente 9 anos, Ana entrou para um projeto da ginástica rítmica na cidade de Guaratinguetá (SP) para fazer amigos e ter oportunidade de fazer uma atividade física onde suas limitações motoras e intelectuais pudessem ser respeitadas e trabalhadas. O processo é longo, mas, nesse tempo todo, Ana evoluiu muito, gosta da ginástica, das amizades que fez e principalmente de sua técnica.
Hoje eu a percebo mais madura e concentrada. Ela tem a consciência de que é capaz e que, para alcançar um objetivo só precisa se esforçar e não deixar de acreditar nunca.
Ana Laura está preparada para ser uma representante da ginástica rítmica do Brasil nas Olimpíadas Especiais de Abu Dhabi e está se sentindo muito importante e empoderada. Diz para todos: 'Sou uma atleta internacional'."
William Coelho de Carvalho, 16 anos, judoca de Duque de Caxias (RJ)
Depoimento do pai, Antonio Carlos Junior, 52 anos, técnico de edição 
Arquivo Pessoal
William Coelho de Carvalho, 16 anos, judocaImagem: Arquivo Pessoal
"Após o parto, foi a maior surpresa quando soubemos da suspeita de ele ser portador da Síndrome de Down. Chorei dois dias seguidos na beira da cama, não somente em ter um filho especial, e sim pela preocupação de pensar se ele seria feliz.
Eu não me limitava a perguntar ao médico qual seria o próximo passo. E, desde então, passei a fazer tudo para que ele fosse feliz. Não existe batalha impossível, nem ser incapaz, e sim a maneira de você fazer o melhor com o que tem.
Aprendi muito no dia em que a assistente social me chamou e falou: 'Pai, nós vamos dar tudo para ele. O que ele mais gostar, nós vamos abraçar, e o que não gostar, fica para depois'. Essa foi a minha maior lição de vida. Assim começou a trajetória do William: eu enchia as boias para ele começar a nadar, encaixava os pés dele no pedal da bicicleta, quando ele tinha 4 anos, para fazê-lo se movimentar. E hoje eu não tenho dúvida que ele é feliz!
Em 2011, William começou na prática de judô, enfrentou muitos desafios, cada dia foi uma batalha. Em 2017, foi classificado na seletiva das Olimpíadas Especiais do Brasil. No dia de seu aniversário, em 5 de dezembro, ele foi oficialmente convocado para compor a equipe de judô que irá pra Abu Dhabi em março de 2019.
Ele sente orgulho dos benefícios que o judô tem proporcionado: amadurecimento, responsabilidade, confiança, e, principalmente, a esperança de poder chegar aonde ele quiser."
Mayra Carvalho, 20 anos, ginasta de Guaratinguetá (SP) 
Depoimento da mãe, Regiane Carvalho, 39 anos, agente de saúde
Divulgação
Mayra Carvalho, 20 anos, ginastaImagem: Divulgação
"Quando a Mayra nasceu, foi um nascimento normal, nada deixava aparente que ela tinha uma deficiência. Até os 4 anos de idade ainda não via diferença alguma, até ela ser matriculada na pré-escola. A partir daí, com a ajuda de educadores, começamos a observar que o comportamento não condizia com a idade, ela não conseguia aprender nem acompanhar os colegas na mesma faixa etária.
Começou a ter acompanhamento na escola, mas sabíamos que a ajuda da família também seria muito importante para o desenvolvimento dela. Como se não bastasse essa novidade e uma mãe totalmente perdida e desorientada, a Mayra, aos 7 anos, começou a convulsionar e ter crises horríveis na escola. Após 8 anos de uso de medicamentos contínuos, hoje Mayra não convulsiona mais. 
No início, ela estudou na classe especial e depois começou a estudar em classe regular. Foi quando começou a evoluir. Aos poucos, ela foi melhorando sua autonomia, ficou um pouco mais independente e começou a conhecer letras.
Mas a vida dela mudou mesmo quando tive a oportunidade de colocá-la no grupo de ginástica rítmica da Fundação Special Olympics International. A ginástica rítmica a fez perceber que ela é capaz e que limites são superados através da persistência. É também por meio da prática que ela está vencendo a timidez, está mais concentrada e conquistou autoestima, pois é tratada igual a todos e cobrada, fazendo com que ela seja mais independente.
É visível a evolução dela, e, cada vez que é elogiada, ela progride muito, conta para todos e fica muito feliz. Sua primeira competição foi em 2016, e a partir daí seguiu o cronograma das Olimpíadas Especiais nas competições locais, regionais, estaduais e nacionais, o que a levou a conseguir uma vaga para os Jogos Mundiais. Tudo isso, para mim, como mãe, é um grande avanço e uma felicidade enorme."
Marcelino Magno da Silva Lages, 24 anos, corredor de Mesquita (RJ)  
Depoimento de Dejane Ferreira de Souza, 36 anos, técnica de atletismo 
Arquivo Pessoal
Marcelino Magno da Silva Lages, 24 anos, corredorImagem: Arquivo Pessoal
"Sua mãe, dona Ruth, teve rubéola na gravidez e isso fez com que Marcelino nascesse com encefalopatia crônica não progressiva, o que causou danos a áreas do cérebro responsáveis pelo controle motor, coordenação muscular e desenvolvimento cognitivo.
No início, a mãe não queria acreditar que ele tivesse algum problema mesmo percebendo que a posição que o colocava, fosse na cadeirinha, sofá ou cama, ele permanecia imóvel. Familiares e amigos a incentivaram a buscar informações e ajuda, foi aí que, através de exames, o diagnóstico veio.
Na primeira escola, Marcelino começou a receber seus primeiros estímulos. Incentivada pela professora, a mãe do menino começou a retirar a cadeira de rodas e a dar estímulos para que ele andasse - aos 5 anos, ele começou a engatinhar.
Já na adolescência, sempre amante do futebol e participativo nas aulas de educação física (sua aula preferida até hoje), sua professora Miriam percebeu que ele tinha habilidades para corrida e foi aí que Marcelino deu um salto direto e descobriu um mundo de oportunidades.
Desde a sua primeira participação nos torneios regionais, passando para os estaduais e nacionais, Marcelino não parou de viajar. E, como bom competidor, ele faz coleção de medalhas de ouro pelas Olimpíadas Especiais nos 100 metros rasos e arremesso de peso.
Por conta da dedicação aos treinos, disciplina e força de vontade, hoje ele faz parte da equipe de Atletismo que, em março deste ano, poderá participar do Special Olympics World Games 2019, em Abu Dhabi."
Vaquinha virtual
Objetivo: viabilizar a participação da delegação brasileira, composta por 100 pessoas, nas Olimpíadas Especiais de Abu Dhabi
Como contribuir: doando a partir de R$ 50 por meio do site
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