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Queda expressiva da popularidade de Lula alimenta dúvidas sobre 2026

 

Queda expressiva da popularidade de Lula alimenta dúvidas sobre 2026 Uma sequência de números preocupantes ligou de forma definitiva o sinal de alerta no Palácio do Planalto. A falta de paciência dos eleitores com o desempenho de Luiz Inácio Lula da Silva foi exposta em uma série de levantamentos nas últimas semanas, que convergiram na mesma direção: pela primeira vez, a reprovação do governo foi maior que a aprovação. A sondagem mais recente, divulgada pelo Paraná Pesquisas, na quarta-feira 19, mostra que 55% dos brasileiros rejeitam Lula, enquanto 42% o aprovam. Em relação ao desempenho, 45% dos entrevistados avaliam hoje sua gestão como “ruim” ou “péssima” — 28,8% a consideram “boa” ou “ótima” e 25% apontam o governo como “regular”. A reportagem é da Veja.

É verdade que períodos de baixa na popularidade podem ocorrer durante um mandato presidencial. Todos os ocupantes do Palácio do Planalto desde a redemocratização passaram por oscilações na avaliação, sobretudo em momentos de turbulência econômica. É o caso de José Sarney (MDB), que terminou o mandato, marcado pela inflação galopante, com 9% de aprovação. Fernando Henrique Cardoso (PSDB), no primeiro ano de seu segundo mandato, viu sua popularidade chegar a 13%. O cenário atual enfrentado por Lula, no entanto, tem agravantes que podem tornar mais desafiador o esforço de recuperação de imagem. Além da falta de marcas importantes da atual gestão, a situação econômica do país, com inflação ameaçando sair do controle, contribui para a avaliação ruim do governo. “Quem vai no mercado tem a percepção de que tudo está mais caro, e isso sempre foi um fator determinante na popularidade de um presidente”, afirma o cientista político Elias Tavares. “As pessoas esperavam que ele entregasse resultados como em seus primeiros mandatos.”

Aos poucos, como mostram as pesquisas, até a base mais fiel ao petista começou a vê-lo com desconfiança. Levantamento do Datafolha divulgado no último dia 14 mostra que, entre dezembro e janeiro, a popularidade do presidente desabou 20 pontos percentuais entre seus eleitores tradicionais. Era de 66% a taxa de aprovação de Lula entre as pessoas que haviam votado nele. Agora, esse número caiu para 46%. A debandada se verifica em cidadãos de baixa renda, nordestinos e jovens, segmentos em que o petista sempre teve votação expressiva, mas que se mostram desiludidos com a atual gestão e veem um governo incapaz de entregar a prosperidade que havia prometido na campanha. Se não bastasse, a gestão parece aos olhos de muitos mais distante de quem sempre votou na sigla. “O PT hoje não é mais dos trabalhadores”, diz o barbeiro Weser Costa, de 43 anos, morador da Zona Sul de São Paulo, um tradicional reduto do partido na maior metrópole do país. Filho de um pastor petista, ele faz parte de um raro grupo de evangélicos de esquerda, mas perdeu a convicção que sempre teve de votar no partido.

Para além das questões ideológicas, o que pesa mais no momento mesmo para a perda da popularidade do presidente é a inflação de produtos essenciais no bolso dos brasileiros. “A dúzia de ovos está 20 reais. Nunca vi isso”, reclama o baiano Nilvan Queiroz, de 70 anos, dono de um restaurante no centro da cidade de São Paulo. Aos 17 anos, ele saiu de Ibotirama (BA), às margens do Rio São Francisco, para buscar uma vida melhor na cidade grande — e conseguiu. Na capital paulista, o empresário trabalhou como garçom em pizzaria e chegou a ter três lanchonetes, mas fechou duas na pandemia. Os relatos do irmão, que ficou na Bahia, sobre os primeiros governos petistas o fizeram votar em Lula nas últimas eleições. No entanto, o preço exorbitante dos alimentos e a falta de segurança, que o força a fechar seu estabelecimento mais cedo às quintas, sextas e sábados, e não abrir aos domingos, deixaram Queiroz arrependido do voto.

Lula também perdeu o apoio entre os mais jovens. O desgaste nessa base mais fiel de eleitores tem reflexos diretos no meio político. A consequência direta disso é o aumento do cacife para parlamentares e partidos barganharem o apoio ao presidente em uma gestão que sempre sofreu para garantir a governabilidade. Lula já ofereceu ministérios a partidos com grandes bancadas, mas não conseguiu a garantia de alinhamento total dessa turma com o Palácio do Planalto. São os casos do PSD, de Gilberto Kassab, e do Republicanos, de Marcos Pereira. Na esteira da queda de popularidade de Lula, ambos os caciques aproveitaram o momento para alfinetar publicamente o petista. O presidente do Republicanos disse que Lula comanda um “governo sem rumo”. Já o líder do PSD, conhecido no meio político como alguém que faz projeções certeiras, afirmou, no fim de janeiro, que, se as eleições fossem naquele momento, Lula seria derrotado. Na mesma ocasião, Kassab também criticou a condução de Fernando Haddad na economia, chamando-o de “fraco”.

Integrantes do governo reconhecem o tamanho do problema, mas ainda mantêm o otimismo com a possibilidade de uma guinada. Existe a crença de que grande parte dos problemas reside na incapacidade de comunicar aos eleitores as boas iniciativas da gestão. Recrutado para mudar essa percepção, o marqueteiro Sidônio Palmeira, novo chefe da Secretaria de Comunicação Social, tem o diagnóstico de que a real avaliação sobre o governo é “muito menos negativa” do que mostram as pesquisas. Essa crença, no entanto, vem sendo desmentida a cada novo levantamento.

No campo político, a iminente reforma ministerial será uma tentativa de fortalecer apoios entre os partidos do Centrão. Para Lula, a missão é retomar viagens pelo país, o que ele já vem fazendo. “Ninguém se conecta com o povo como o Lula”, diz Marco Aurélio de Carvalho, líder do Prerrogativas, grupo de juristas ligados ao PT. A situação atual mostra que esse laço histórico começou a se enfraquecer. O desafio na segunda metade do governo é se reaproximar dessa base mais fiel e reconquistar a confiança de segmentos para além da bolha da esquerda, como parte da classe média urbana. Será uma verdadeira corrida contra o tempo.



O Globo 

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