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Senhor do Bonfim: Juiz usa versos para decidir sobre disputa de sanfona entre músicos

Senhor do Bonfim: Juiz usa versos para decidir sobre disputa de sanfona entre músicos
Sanfoneiro Nivaldo do Acordeon com instrumento alvo de disputa (Foto: Reprodução/ WhatsApp)
28/03/18- Um juiz da cidade de Senhor do Bonfim, norte da Bahia, fez uma sentença em versos para decidir o destino de uma sanfona disputada por dois músicos, Renato Ianovich, conhecido como Renato Cigano, e Nivaldo Amaro de Araújo, Nivaldo do Acordeon. Renato Cigano procurou a polícia porque acreditava que o instrumento de Nivaldo era o mesmo roubado dele há três anos. A decisão foi da última sexta-feira (23). Ao G1 nesta quarta-feira (28), o magistrado Teomar Almeida de Oliveira disse que decidiu que o instrumento deveria ficar com Nivaldo, pois ele apresentou um documento provando que comprou a safona há dois anos. 


O G1 não conseguiu contato com os músicos. "Nilvado o direito é seu, como fiel depositário/ Visto o seu opositor não ter provado o contrário/ Até que se finde a contenda/Delegado me atenda/Como da outra vez foi buscar/A bela sanfona do povo, vá agora entregar". Na sentença, ele cita a letra da canção "Sanfona do Povo", de Luiz Gonzaga.
O juiz diz que usou os versos porque é filho de agricultores e gostaria de lembrar a origem humilde na sentença. "Como filho de agricultores, saído da roça aos 14 anos para morar na cidade de Nova Olinda, sertão da Paraíba, vi na contenda dessa sanfona uma retrospectiva de vida humilde que poderia ser repassada em versos, na personificação do instrumento musical, às partes e à sociedade", disse o juiz. A disputa entre os sanfoneiros começou quando Renato Cigano, que mora em São Paulo, foi até a delegacia de Senhor do Bonfim para reivindicar a posse do instrumento. Ele teve a safona roubada há três anos e depois de ver a sanfona de Rivaldo nas redes sociais, achou que era a mesma que foi roubada. O juiz Teomar determinou a apreensão da sanfona para que a polícia investigasse o caso. Na delegacia, a sanfona acabou guardada no banheiro, porque segundo o juiz, foi o único lugar disponível na unidade policial. Isso também foi lembrado pelo juiz nos versos da sentença:  "Pobre sanfona do povo/Pagando o que não deve/Como qualquer prisioneiro/ Presa por ser a rainha do Nordeste e do Sertão/Não pode mais permanecer/Como adorno de banheiro de masmorra da prisão".  Os dois sanfoneiros prestaram esclarecimentos à polícia, mas segundo o juiz, apenas Nivaldo apresentou um documento de compra e venda, com firma reconhecida, revelando a aquisição da sanfona no estado do Espírito Santo, há dois anos. "E para finalizar/Hei por bem declarar/Que fui competente para buscar/Sou também para entregar/Cumpra-se, sem titubear" . Depois da decisão, Nivaldo recebeu a sanfona na delegacia. Segundo o juiz, o processo continua em andamento e ainda cabe recurso. De acordo com Teomar, a investigação policial também deve continuar. O G1 não conseguiu contato com a Polícia Civil.

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