Nesta sexta-feira (6), o Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) divulgou o relatório preliminar sobre a queda do avião da VOEPASS. O acidente aconteceu no dia 9 de agosto e vitimou 62 pessoas – sendo 58 passageiros e quatro tripulantes. Na coletiva, os peritos detalharam os dados e áudios encontrados nas caixas-pretas da aeronave, além das atividades relacionadas ao voo, ambiente operacional e fatores humanos.
O tenente-brigadeiro do ar Marcelo Damasceno começou a declaração afirmando que os parentes das vítimas foram informados dos laudos antes da transmissão. “Nos reunimos com os familiares para apresentar o reporte preliminar do acidente”, apontou, acrescentando que as investigações continuarão após o primeiro reporte. Os agentes também destacaram que o intuito da Cenipa não é apontar culpados, mas sim entender o que aconteceu para que acidentes do tipo não aconteçam novamente.
De início, o tenente-coronel aviador Paulo Mendes Fróes, investigador-encarregado do Cenipa, detalhou informações gerais da aeronave, da tripulação, do plano de voo e da meteorologia. Segundo ele, uma previsão de gelo severo na rota do avião já era esperada para o dia do acidente.
Fróes explicou que às 13h18, o comandante, sem reportar nenhuma emergência, afirmou que o avião estava nas condições ideais para realizar a aterrissagem, mas a torre de controle pediu para que a aeronave da VOEPASS esperasse o pouso para que outro avião em rota convergente tivesse a prioridade. A descida foi autorizada às 13h20. Apenas um minuto depois, o controle da aeronave foi perdido e ela começou a voar de forma anormal até sua queda.
Sobre a manutenção, o investigador afirmou que o avião tinha dois sistemas (Pack) independentes, no entanto, um deles estava inoperante. Fróes comentou que a falta desse sistema não impossibilitava o voo, desde que algumas exigências fossem atendidas pela tripulação, o que foi feito. “Registros técnicos de manutenção estavam atualizados. A equipe de investigação analisou os registros técnicos nos dias anteriores ao acidente e verificou que estavam atualizados, segundos os registros”, disse o tenente-coronel.
O militar também descreveu os três níveis de proteção antigelo. Segundo ele, um deles fica ligado durante todo o voo, e outros dois precisam ser ativados manualmente por meio de uma luz que acende automaticamente no painel. A investigação ainda cogita que possa ter acontecido o fenômeno “Supercooled Water Droplets”, que se baseia em gotas de água virando gelo ao entrar em contato com a estrutura do avião.
Às 11h41, uma das luzes que alerta gelo na aeronave acionou e, às 12h15, o botão foi apertado pelo piloto, mas a tripulação comentou que havia uma falha no equipamento. O detector foi acionado automaticamente mais duas vezes. Em gravações, o co-piloto chegou a comentar: “Bastante gelo”. Cinco segundos depois ele apertou o botão novamente, que fica ativo até a perda de controle do avião. A última comunicação com a torre de controle foi às 13h20.
Simulação mostrou sistemas que foram ativados no painel nos minutos antes da queda (Foto: Reprodução/g1)
Considerações finais
A conclusão do laudo determinou que a aeronave estava certificada para voar em condições de formação de gelo, e a tripulação estava qualificada e possuía experiência para esse tipo de voo. Além disso, as informações meteorológicas estavam disponíveis antes do horário da decolagem, mas o voo passou por condição de formação de gelo severo. Por fim, foi definido que a tripulação não declarou emergência, e que houve perda de controle da aeronave durante o voo em condições de formação de gelo.
As próximas etapas da investigação envolverão exames de materiais e teste funcional de equipamentos, por meio de interação com operador, representantes acreditados e fabricantes; entrevistas com ênfase nas condicionantes individuais, psicossociais e organizacionais e a análise de procedimentos operacionais e de manutenção.
O avião com 62 pessoas a bordo, sendo 58 passageiros e 4 tripulantes, caiu em um condomínio no bairro Capela, em Vinhedo, no interior de São Paulo. A VOEPASS liberou o nome das vítimas. O acidente envolveu um avião bimotor de passageiros, modelo ATR-72, que havia decolado de Cascavel (PR) com destino a Guarulhos, na Grande São Paulo. A empresa apontou que ainda não se sabe como o acidente ocorreu. Todas as vítimas foram retiradas dos escombros e levados para o Instituto Médico Legal paulista, onde serão identificados.
A PF utilizou um scanner 3D, uma tecnologia moderna, que acelerou a localização dos corpos. Ao g1, o porta-voz do Corpo de Bombeiros, Maycon Cristo, detalhou o processo. Primeiro, foi realizada uma perícia na parte externa da aeronave e, posteriormente, iniciou-se um trabalho “mais meticuloso” de recorte do bimotor para a retirada de partes que estão em locais de difícil acesso.
“A gente considera um documento, aparelho celular, posicionamento na aeronave, tudo isso para colaborar para a identificação. Considerando toda essa coleta de evidências, aí a gente retira o corpo, coloca no carro e leva para o IML de São Paulo para concluir a identificação”, explicou Cristo.
G1
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