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Sem médico, mulher dá à luz em recepção de hospital e bebê morre


Uma mulher grávida de nove meses deu à luz na recepção de um hospital em Santo Antônio de Jesus, município localizado a 190 quilômetros de Salvador, na manhã deste sábado (26). A Santa Casa de Misericórdia do Hospital e Maternidade Luís Argolo em Santo Antônio de Jesus não tinha obstetras no momento do incidente. Segundo a instituição, a criança já nasceu morta.

"A médica que estava de plantão teve um problema pessoal e não pode trabalhar. Nós não conseguimos substituí-la", disse o provedor da Santa Casa, Aurelino Reis, em entrevista ao Correio24horas.
A mãe da criança, Tatiane de Jesus Santos, 29 anos, disse que procurou o hospital na véspera e foi atendida na recepção, mas teve de voltar para casa porque não havia médicos. "Quando cheguei a casa, comecei a sentir fortes dores, não suportei e voltei para o hospital, mas quando cheguei à cabeça do meu bebê começou a sair. Não fizeram questão nem de me colocar numa maca, ninguém se importou com a minha situação", disse a mulher em entrevista ao site Voz da Bahia. 
Ela ainda rebatou os médicos da instituição, que alegaram que a criança nasceu morta e tinha a cabeça grande e com má formação, a filha se mexia quando ela estava em casa. "Meus exames não deram nenhum problema, minha ultrassonografia está boa e o médico sempre me dizia que a minha filha estava bem", alega.
O provedor da Santa Casa disse que a administração abriu um sindicância para investigar o que aconteceu neste caso. "Eu tenho 1 ano e 4 meses à frente da Santa Casa, e esta é a primeira vez que isto acontece", comenta. "Ficamos sem o médico plantonista durante a noite, e quando a mulher chegou ela já estava em trabalho de parto. Enquanto arrumavam uma maca para atendê-la, o bebê nasceu. Uma médica que estava lá e viu o feto disse que a criança aparentava estar morta há alguns dias", disse Aurelino Reis. 
No entanto, uma mulher que testemunhou o parto e auxiliou Tatiana nega esta versão da Santa Casa. Segundo Fernanda Almeida, nenhum funcionário do hospital não ajudou ou atendou a grávida, mesmo diante dos pedidos de socorro dela. O parto, de acordo com a testemunha, foi realizado por pessoas que também aguardavam atendimento.
"A criança já tinha nascido, o chão estava cheio sangue, somente nesse momento que apareceram funcionários, extremamente mal educados, para fazer o atendimento. Isso é um absurdo", declarou a mulher em entrevista ao Blog do Valente. "Não tinha um enfermeiro, técnico ou pessoas na recepção. Não tinha ninguém".
 Instituição disse que não tinha obstetra no plantão, e que criança já nasceu morta (Foto: Blog do Valente)
O corpo da menina foi encaminhado para o Departamento de Polícia Técnica (DPT) da região, onde deve passar por uma perícia que confirme o que causou a morte da criança, assim como quando ela aconteceu. A mãe da bebê está internada na Santa Casa e passa bem.
O marido de Tatiana, pai da menina, disse que não vai procurar a Justiça porque esta ser lenta. "Não foi a primeira, nem vai ser a última criança que vai acontecer isso. Vamos pra justiça e fica na mesma, só é perda de tempo. A vida da minha filha já se foi e a própria Justiça baiana não funciona", disse Girlan Cerqueira dos Santos para o site Voz da Bahia.  
Problemas financeiros
O provedor da Santa Casa admitiu que a instituição passa por problemas financeiros, mas disse que a falta de médicos aconteceu somente neste final de semana. "A gente vem correndo atrás e substituindo, mas nos finais de semana é um Deus-nos-acuda para conseguir um obstetra", comenta Aurelino Reis.
"Sofremos também uma grande dificuldade financeira. Para você ter noção, o parto normal de uma paciente custa em torno de R$ 1200. Nós recebemos do SUS apesar R$ 450, que claramente não dá para cobrir os custos com anestesia, instrumentação, medicamentos e tudo mais. E isto é só com os partos naturais - cesariana é muito mais caro".
Ainda de acordo com o administrador da instituição, cerca de 200 partos são realizados por mês na Santa Casa de Misericórdia do Hospital e Maternidade Luís Argolo, que além de Santo Antônio de Jesus, também atende cidades satélites. "Nós somos uma entidade filantrópica e encontramos dificuldades demais em continuar realizando esse trabalho. Aqui se gasta muito mais do que se recebe", afirma Reis. 

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