A filiação do ex-ministro da Justiça Sergio Moro ao Podemos e o anúncio da pré-candidatura pela sigla mexeu no tabuleiro dos demais candidatos da terceira via. Isso porque entre os postulantes ao Palácio do Planalto, Moro desponta como o mais competitivo. Porém, a 11 meses do pleito eleitoral, especialistas analisam que ainda é cedo para fechar um cenário e que Moro enfrentará dificuldades para romper a polarização instalada pelo presidente Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Nos últimos dias, legendas, como o PSD, MDB e PSDB, buscaram marcar posição. Confirmaram as pré-candidaturas à Presidência dos senadores Rodrigo Pacheco (MG) e Simone Tebet (MS), e do governador de São Paulo, João Doria, respectivamente. Para a constitucionalista Vera Chemim, mestre em direito público pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Moro é a alternativa viável para a "terceira via" e terá uma curva ascendente de votos na campanha eleitoral de 2022, ao contrário de seus concorrentes.
"Diferentemente de Marina em 2014, Moro é um sério concorrente para os outros candidatos, até porque Bolsonaro e Lula reforçam a polarização e o país precisa eliminar essa conjuntura político-ideológica para se desenvolver. Trata-se de um fator determinante para que volte a crescer sem a sombra da atual polarização", defende, ressaltando que não se descarta um crescimento exponencial de Moro que o coloque no segundo turno, desde que saiba cooptar a grande massa da população.
Alessandro Costa, mestre em ciência política, especialista em direito eleitoral e professor de pós-graduação do IBMEC, observa que os primeiros levantamentos colocam Moro como o principal adversário de Lula e Bolsonaro, em terceiro lugar. "Por um lado, a ala morista pode entender ser o caso de comemorar o fato de, em tão pouco tempo, ele aparecer à frente de Ciro Gomes, do PDT, ainda mais se levarmos em consideração que nunca foi candidato, enquanto Ciro deverá concorrer pela quarta vez. Entretanto, já era consenso entre os analistas políticos esse crescimento inicial", diz.
Costa analisa que a previsão é de que a vida não será nada fácil para Moro na missão de desbancar seus oponentes na corrida presidencial e que a imagem do ex-juiz está atrelada ao insucesso e constrangimento alcançados pela declaração de parcialidade nos julgamentos de processos originados pela Operação Lava-Jato, em especial o que condenou o próprio Lula, seu provável adversário em 2022.
"Ele deve receber considerável rejeição também por ter aceitado fazer parte do governo Bolsonaro, a quem agora direciona críticas e aponta erros de gestão. No olho desse furacão, Moro terá a missão de tirar o seu ex-chefe do páreo se quiser alcançar o segundo turno", acrescenta, completando que a tarefa não será fácil, mesmo frente ao cenário de queda da popularidade de Bolsonaro, que terá a máquina governamental trabalhando pela reeleição.
Peças de xadrez
Segundo analisam os especialistas, Moro entrou no jogo político tal qual um cavalo em um tabuleiro de xadrez. Com capacidade de pular peças, além da boa colocação nas pesquisas, ele tende a "se tornar" a terceira via, principalmente por ter capacidade de atrair eleitores que votariam no presidente da República ainda motivados pelo antipetismo.
"Os candidatos e os seus partidos querem concorrer a todo custo. No geral, eles pensam individualmente. Moro é quem afunila esse gargalo. Até o fim do primeiro quadrimestre, quando oficializar as candidaturas, parece que os outros candidatos tendem a desidratar e, aos poucos, o Moro vai assumir esse papel de terceira via. Além disso, ele tende a galvanizar uma parte do eleitorado de direita que iria com Bolsonaro e está insatisfeito", explica Leonardo Queiroz Leite, cientista político e doutor em administração pública pela FGV/SP.
Danilo Morais dos Santos, advogado constitucionalista, mestre em Poder Legislativo e professor da pós-graduação do Ibmec-DF, analisa que os candidatos da "terceira via" historicamente enfrentam dificuldades em alcançar o segundo turno e a tendência é de consolidação de Lula e Bolsonaro, com o favoritismo do petista. Ele avalia que as eleições de 2022 serão marcada por uma "disputa de legados". "A campanha de Moro não deslanchará apenas com base na ladainha anticorrupção ou na tentativa de atacar Lula. A questão central para 2022 é a economia e o bem-estar social", comenta.
O analista político Melillo Dinis, do portal Inteligência Política, explica que Moro e os demais candidatos da terceira via lutarão por cerca de um terço dos votos válidos. "Os outros dois terços ficarão com Lula e Bolsonaro."
Fonte: EXAME
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