O jovem seria namorado da filha do traficante |
Um ex-estagiário de uma das Varas Previdenciárias da Justiça Federal de Londrina, no norte do Paraná, foi preso nesta segunda-feira (20) por suspeita de acessar ilegalmente o processo criminal da Operação Spectrum, que prendeu o traficante Luiz Carlos da Rocha, conhecido como “Cabeça Branca”, segundo a Polícia Federal (PF).
Inicialmente, a PF havia informado que o alvo ainda era estagiário da Justiça Federal. Depois, a informação foi corrigida pela polícia, que disse que o alvo da operação já havia sido desligado da função.
O estudante de direito, de 20 anos, foi preso na universidade onde estuda por volta das 8h30 desta segunda, conforme a polícia.
A senha à qual ele tinha acesso deveria ser usada exclusivamente para os serviços ligados à Vara onde fazia estágio.
O juiz federal Nivaldo Brunoni, da 23ªVara Federal de Curitiba, determinou a prisão e as buscas e apreensão em 30 de novembro, atendendo a um pedido da PF e do Ministério Público Federal (MPF). No entanto, o MPF foi contra a prisão temporária do ex-estagiário.
Segundo a decisão, a conduta do ex-estagiário é “reprovável” e há fortes elementos que indicam a quebra de sigilo funcional para beneficiar a organização criminosa voltada ao tráfico de drogas e à lavagem de dinheiro.
“Ao fornecer seu login e senha do sistema e-proc da Justiça Federal para uma organização criminosa de grande porte e importância, investigada em procedimentos que aqui tramitam, O EX-ESTAGIÁRIO colocou em risco o sucesso das apurações e a segurança dos agentes que nela trabalham. Essa ousadia assinala o comprometimento do investigado com LUIZ CARLOS DA ROCHA e o grupo, assim como sua capacidade para interferir no esclarecimento dos fatos”, diz um trecho do despacho.
Ainda de acordo com a decisão, suspeita-se que o ex-estagiário seja namorado da filha de Cabeça Branca.
O login e a senha também foram utilizadas pelo filho e pela nora do traficante, em um hotel de Londrina. Por isso, a Justiça autorizou a busca e apreensão no apartamento do casal, no bairro Gleba Palhano.
O outro mandado de busca e apreensão foi cumprido no Centro de Londrina, no apartamento do ex-estagiário.
Segundo o advogado Fábio Ricardo Mendes Figueiredo, que defende o filho e a nora de Cabeça Branca, se os dois acessaram o processo envolvendo Cabeça Branca não foi com objetivo de obstruir a Justiça, mas sim por ansiedade de acompanhar o processo.
“Isto porque, a meu ver, obstrução da Justiça é um termo muito forte, e acessar para tentar obstruir o processo, e ou as investigações, isso não ocorreu”, informou.
Ainda conforme Mendes Figueiredo, o escritório tinha acesso ao processo desde o cadastramento no site da Justiça Federal, feito dois dias após a prisão de Cabeça Branca.
Investigação
A PF explicou que as investigações começaram após a 23ª Vara Federal de Curitiba informar sobre os acessos irregulares ao processo, com detalhes como o número de IPs utilizados pelo ex-estagiário.
Além disso, a Justiça autorizou a quebra de sigilo telemático – que envolve telefones celulares e outros equipamentos eletrônicos – que identificou também acessos ilegais ao processo feitos em Catanduvas (PR), cidade onde Cabeça Branca está Preso, outros estados e até mesmo no Paraguai.
Todos os usuários que acessaram a ação foram identificados e serão ouvidos em um inquérito policial já instaurado para apurar os fatos.
A operação desta segunda-feira foi batizada de "Operação Controle", referência ao fato de a PF, a Justiça Federal e o MPF terem total controle sobre seus procedimentos, sendo a senha fornecida a estagiários integralmente monitorada, segundo informou a PF.
O G1 entrou em contato com a Justiça Federal e aguarda retorno.
Operação Spectrum
Luiz Carlos da Rocha é apontado pela Polícia Federal como um dos maiores traficantes do Brasil. Ele estava foragido da Justiça havia 30 anos e foi detido em Mato Grosso em julho deste ano. Ele está preso na Penitenciária Federal de Catanduvas, no oeste do Paraná.
As investigações apontaram que o grupo liderado por Cabeça Branca usava caminhões carregados com soja para transportar as drogas. O dinheiro obtido com a venda da cocaína era lavado em fazendas, onde as drogas eram escondidas. Ainda de acordo com a Polícia Federal, Cabeça Branca mantinha duas casas, uma em Sorriso, no Mato Grosso, e outra em Osasco, na Grande São Paulo, usando identidades falsas.
As investigações apontaram que o criminoso usava o Porto de Santos (SP) para exportar drogas para a Europa e os Estados Unidos e tinha mais influência que outros traficantes, como Fernandinho Beira-Mar e Juan Carlos Abadia.
G1
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