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Hoje é o Dia Nacional do Circo, mas não tem espetáculo: Pandemia desafia artistas circenses

 




Celebrado anualmente no dia 27 de março, o Dia Nacional do Circo não poderá ser festejado como queriam os palhaços: gerando risadas de plateias aglomeradas e recebendo intensos aplausos como retribuição. A pandemia de covid-19 mudou completamente o cotidiano de quase 10 mil brasileiros que se sustentavam dos rendimentos obtidos a partir de suas apresentações debaixo da lona.

A pandemia chegou no Brasil em março do ano passado.  A partir do segundo mês de paralisação das atividades, a necessidade de se reinventar foi ficando clara para aqueles que dependem do circo. Um desafio para muitas pessoas que não se viam, de uma hora pra outra, abandonando suas atividades como palhaços, malabaristas, acrobatas, contorcionistas, equilibristas, ilusionistas e outros artistas.

Alguns se aventuraram em novos negócios, como a venda de alimentos e o transporte de passageiros. Outras apostaram em levar o picadeiro para a internet.~

Praça Rio Branco / Jacobina

Foto: Bahia Acontece



O setor cultural foi um dos primeiros a sentir o impacto da pandemia. Cinemas, teatros, casas de shows, circos e outros espaços voltados para a arte ficaram impossibilitados de reunirem público. Um auxílio emergencial para garantir uma renda mínima a artistas foi aprovado no Congresso Nacional em março do ano passado. Ele foi pago pelo governo federal em nove parcelas entre abril e dezembro de 2020: nos primeiros cinco meses, o valor era de R$ 600 e, nos outros quatro, caiu para R$ 300.


Os repasses foram feitos a maiores de 18 anos sem emprego formal e com renda inferior a maio salário mínimo, que não estivessem recebendo benefício previdenciário ou assistencial e que tenha tido, no ano anterior, rendimento tributáveis abaixo de R$ 28,5 mil. Muitos artistas circenses se enquadravam nessas condições. Na semana passada, o governo federal instituiu por medida provisória um novo auxílio de quatro parcelas, com valores mais baixos, entre R$ 150 e R$ 375, e com pré-requisitos novos que reduziram o número de beneficiários.

Uma ação emergencial específica para o setor cultural também saiu do papel em junho do ano passado. Trata-se da Lei 14.070/2020, que ficou conhecida como Lei Aldir Blanc em homenagem ao compositor que faleceu devido a complicações da covid-19 logo no início da pandemia. Articulada no Congresso Nacional, ela foi aprovada com apoio de parlamentares da base do governo e da oposição.

Através dela, a União ficou responsável por repassar aos estados e municípios R$ 3 bilhões, que poderiam ser empregados de diferentes formas: renda emergencial aos artistas, subsídios para manutenção de espaços, empresas e instituições culturais, editais para realização de eventos ou para produção cultural, entre outros.

 

Mapeamento dos circos

O Instituto Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) chegou a divulgar estudo onde estimava que 700 mil pessoas poderiam ser beneficiadas pela Lei Aldir Blanc. No meio circense, no entanto, o acesso ao recurso foi restrito. E, entre quem teve acesso, relatos como o de Jonathan são comuns.

A Associação Brasileira de Artes, Cultura e Diversões Itinerantes (ABACDI), entidade que reúne artistas e produtores culturais que atuam em defesa de políticas públicas para a cultura, avalia que há um excesso de normas impostas pelos governos estaduais e municipais, que tinham autonomia na distribuição dos recursos e usaram a lei como se fosse uma iniciativa de fomento e não de auxílio emergencial.

Em meio à pandemia, associações e sindicatos de todo o país criaram um fórum permanente em prol de políticas públicas. A aliança, da qual a ABACDI faz parte, conseguiu tirar do papel uma demanda antiga dos circenses: um censo do circo.

O mapeamento foi publicado em julho do ano passado no site da Fundação Nacional de Artes (Funarte), que é vinculada ao Ministério da Cidadania. Ele lista 651 circos em todo o Brasil, responsável por garantir sustento para 9.579 pessoas. Quase 80% estão concentrados nas regiões Nordeste (271) e Sudeste (248). Foram mapeados ainda 31 circos no Norte, 31 no Centro-Oeste e 70 no Sul.

 

 

Atividade familiar

O uso de apresentações circenses como parte de um espetáculo que visa o entretenimento é uma prática que remete à Antiguidade. Na sociedade grega, exibições de contorcionismo. No Egito e na Índia, existem registros históricos de pinturas de malabaristas. O Império Romano foi responsável por erguer arenas onde milhares de pessoas eram recebidas para assistir corridas de cavalos, caçada de animais, lutas de gladiadores, etc.

Mas o circo moderno, da forma como conhecemos, tem origem na Inglaterra do século 18. Ele foi trazido para o Brasil por imigrantes europeus em meados do século 19 e foi pouco a pouco se popularizando.

O Dia Nacional do Circo foi instituído em 1972 e a data remete ao aniversário de Abelardo Pinto, responsável por dar vida ao palhaço Piolin, que fez muito sucesso na década de 1920 e foi homenageado pelos modernistas na Semana de Arte Moderna.

Como em boa parte do mundo, a atividade no Brasil ganhou uma dimensão familiar. O ofício de palhaço, malabarista, acrobata é ensinado de pai para filho. O circo vai assim atravessando gerações, que dele extraem o sustento para toda a família, incluindo idosos e crianças. A pandemia colocou um desafio inédito para toda essa comunidade.

 

Um documentário financiado através de edital da Funarte e lançado no ano passado pela ABACDI mostra como alguns artistas estão se virando: uns vendendo brinquedos infantis e alimentos na beira do asfalto, outros trabalhando na construção civil ou como cuidador de idosos.

"Faço transporte de passageiros de uma cidade para outra de manhã e, à tarde, vendo ovos", conta Edson Oliveira da Conceição, o palhaço Pessebe do Circo Fênix, em Jaguaribe (BA).

Mas não é fácil criar, de uma hora para outra, novos caminhos para obter renda. Sensível a esse cenário, em determinados locais, a população das próprias comunidades onde eles estão inseridos colaboraram doando cesta básicas. Algumas regiões também contam com a presença da Pastoral dos Nômades, serviço da Igreja Católica organizado para prestar assistência a ciganos e a trabalhadores de circos e parques itinerantes. Sua ação tem garantido apoio em situações consideradas mais críticas.

 FONTE: EBC

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