Visão Mundial, Aliança Evangelica Brasileira, RECAP e Igreja Metodista lideram nota de repúdio à violação de espaços religiosos




Nota é reação à invasão pela Polícia Federal a dois prédios de igrejas para acolhimento de migrantes e refugiados em Roraima na última semana


Na última quarta-feira, 17, a Polícia Federal invadiu 
dois prédios de igrejas cristãs em Roraima que têm 
sido utilizados para acolher pessoas migrantes e 
refugiadas vindas da Venezuela. Os dois prédios 
ficam na cidade fronteiriça de Pacaraima e pertencem 
a uma igreja católica e outra evangélica, da Assembleia
 de Deus. Pessoas que trabalham nos locais e estavam
 no momento da invasão relataram atos violentos na 
abordagem, entrada com armamento pesado e a condução de 
várias pessoas à delegacia, sem mandado judicial.

Organizações que trabalham com direitos humanos 
têm se manifestado publicamente contra a 
abordagem agressiva recebida também pelas
 pessoas refugiadas e migrantes que estavam no local, 
dentre eles, gestantes e crianças. 
E nesta segunda, 22, Visão Mundial, Aliança Evangelica
 Brasileira, RECAP e Igreja Metodista lideram uma nota
 pública adicional, reforçando o repúdio aos atos 
cometidos, em especial pelo desrespeito à liberdade 
religiosa e ao trabalho de acolhimento feito pelas 
organizações no local.

Até agora, 58 organizações baseadas na fé, 
igrejas e movimentos de defesa dos direitos
 humanos assinaram a nota, que será encaminhada
 às autoridades dos Poderes Legislativo, Executivo 
e Judiciário, além de autoridades eclesiásticas 
brasileiras. Novas assinaturas poderão ser anexadas 
ainda nesta semana.

Confira, a seguir, a íntegra da nota, com as 
organizações que já a assinaram:

NOTA PÚBLICA DE REPÚDIO À VIOLAÇÃO DE ESPAÇOS RELIGIOSOS NO BRASIL


Ao Exmo. Sr. Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF)
Ao Exmo. Sr. Ministro da Justiça
À Vossa Eminência o Arcebispo Presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
Ao Exmo. Sr. Presidente da Frente Parlamentar Evangélica no Congresso Nacional
Ao Exmo. Sr. Governador do Estado de Roraima
Ao Exmo. Sr. Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Roraima (TJRR)
À Exma. Sra. Procuradora-Geral do Estado de Roraima
À Vossa Eminência o Bispo da Diocese de Roraima
Ao Exmo. Sr. Presidente das Assembleias de Deus do Estado de Roraima
Ao Exmo. Sr. Diretor da Seção Judiciária de Roraima na Justiça Federal (TRF1)
Ao Exmo. Sr. Procurador-Chefe do Ministério Público Federal em Roraima (MPF)
Ao Exmo. Sr. Prefeito da Cidade de Pacaraima

Por meio da presente nota pública, as organizações da sociedade civil infra-assinadas,
 vêm manifestar seu total apoio à NOTA PÚBLICA POR JUSTIÇA E DIGNIDADE, CONTRA A VIOLÊNCIA, 
e repúdio às operações efetuadas pela Polícia Federal e Polícia Civil do estado, ocorridas na cidade 
de Pacaraima - RR,  no dia 17 de março deste ano, e vem expressar, ainda, mais uma preocupação: 
a violação, manifestamente ilegal, do domicílio de agentes religiosos, bem como de seus locais de culto.

As operações se deram na Casa São José, casa de acolhida gerida pelas Irmãs de São José e 
Pastoral do Migrante da Diocese de Roraima, local que contava com aproximadamente 70 
pessoas, dentre elas algumas mulheres, gestantes e 40 crianças migrantes, bem como na 
casa onde funciona a Igreja Assembleia de Deus Águas Vivas, local que abrigava cerca de 18 
venezuelanos.

O ingresso das autoridades estatais nestes espaços se deu de forma brusca, mediante o porte de 
armamento de fogo, desproporcional em um contexto de ajuda humanitária, em que se encontravam
 mulheres e crianças, causando um cenário de terror em uma população já marcada por abusos e
 vulnerabilidades. Ainda, a entrada nos abrigos se deu sem mandado judicial, culminando na condução 
coercitiva dos responsáveis pelos locais, vale lembrar, uma freira católica e um pastor evangélico, que 
ainda tiveram seus aparelhos celulares retidos, outra grave violação.

Vale ressaltar, de forma categórica, que as referidas operações se deram em locais de ação humanitária 
desenvolvida por igrejas e organizações baseadas na fé que têm sido parceiras fundamentais da 
Operação Acolhida desde o início, e atingiram pessoas que estavam prestando trabalhos pastorais, 
conforme os mandamentos e a missão das Igrejas. O teólogo anglicano John Stott nos lembra que, 
já no Antigo Testamento, a Bíblia possui "uma forte tradição de cuidado pelo pobre", que inclui o 
acolhimento e o apoio ao levita, ao estrangeiro e às viúvas. Já no Novo Testamento, esta perspectiva, 
de que o cuidado e o apoio ao estrangeiro se constitui em função essencial da igreja, e manifestação 
prática da fé professada pelos cristãos, se encontra no Evangelho de Mateus, quando Jesus Cristo 
afirma que ao acolher ao estrangeiro, estamos acolhendo a Ele mesmo:

Pois eu estava com fome, e vocês me deram de comer; eu estava com sede, e me deram de beber; 
eu era estrangeiro, e me receberam em sua casa; eu estava sem roupa, e me vestiram; eu estava 
doente, e cuidaram de mim; eu estava na prisão, e vocês foram me visitar. (Mateus 25: 35-36).

Estes fatos tornam toda a ação ainda mais preocupante, visto que nenhuma autoridade policial pode
 adentrar e violar espaço religioso e suas práticas religiosas, lesionando bens invioláveis perante 
a Constituição: o domicílio dos depoentes, bem como seus locais de manifestação religiosa e suas 
práticas de fé.

Foi alegado flagrante de suposto crime previsto no art. 268 do Código Penal, qual seja "infringir 
determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença 
contagiosa", afirmando-se que havia aglomeração nos abrigos. Sabe-se bem que as operações 
policiais efetuadas não tinham como interesse a simples inspeção sanitária, mas visavam uma 
ação coordenada com o objetivo de invadir os locais de acolhimento, desativando-os e encaminhando 
seus assistidos para a deportação.

Para bem compreender a situação, tenhamos presente que os agentes e as casas de acolhida 
não trouxeram ou introduziram as pessoas no País, mas agiram humanitariamente em socorro a seres 
humanos em situação de alta vulnerabilidade e evidente necessidade de acolhida e apoio. Acolher e 
socorrer a quem foge da fome, da miséria, da grave violação de direitos é um ato de humanidade, e 
mais ainda, um ato de amor pelo próximo.

Nos causa espanto que, em pleno século 21, a Polícia Federal desrespeite aquele que é considerado 
o primeiro direito fundamental, criado desde a Paz de Vestfália, em 1648: o direito à liberdade religiosa. 
Se medida judicial não corrigir tal arbitrariedade, as consequências deste desrespeito e autoritarismo 
podem ser gravíssimas para a democracia e a liberdade religiosa no Brasil. Trata-se de um ato de 
agressão ilegal, deliberado e sem justificativa jurídica possível. Além disso, é um ato de violação de 
locais religiosos utilizados pelas duas maiores denominações cristãs do país, a saber: a Igreja Católica 
Apostólica Romana e a Igreja Assembléia de Deus. Ora, se duas igrejas cristãs, de tal porte, podem
 ter seu território violado sem mandado judicial que o justifique, cabe a reflexão: que direito está 
assegurado à proteção dos demais espaços religiosos de grupos menores e religiões minoritárias?

Viemos, portanto, requerer:
Que as autoridades às quais se destina esta nota condenem toda ação arbitrária que venha a violar a
 liberdade religiosa e os espaços de manifestação religiosa e suas práticas de fé;
Que condenem as ações que visam criminalizar ou ameaçar a legítima atuação de membros de 
organizações religiosas nos serviços de acolhida humanitária e assistência a migrantes, independentemente
 do status migratório; Que se julguem procedentes os pedidos de indenização requeridos pela 
Defensoria Pública da União e pelo Ministério Público Federal nos autos da Ação Civil Pública 
nº 1001365-82.2021.4.01.4200, da 2ª Vara Federal Cível da Seção Judiciária de Roraima.

Assinam,

Alagados Community Tour - ACTOUR - Salvador/Bahia
Aliança Cristã Evangélica Brasileira
Associação de Moradores do Bairro da Serrinha - AMORBASE
Associação dos Produtores Rurais da Comunidade de Santana - APRUSC
Associação Beneficente Filadélfia - ABENFI
Associação Caminho do Céu Casa de Apoio e Resgate de Vidas - Acarvi
Associação Comunitária Cultural Educacional e Agrícola do Vale do Curu
Associação Comunitária Nova Amanhecer
Associação de Moradores do Conjunto Santa Luzia - Salvador/BA
Associação dos Lavradores do povoado Sítio Serraria Gleba - Serraria
Associação Missionária Action Brasil
Associação Nacional de Voluntários
Associação Santo Dias
Biblioteca Comunitária Clementina de Jesus
Campanha Como Nascido Entre Nós Brasil, Tearfund Brasil.
Cáritas Brasileira
Casa de Oração Mariazinha - Salvador/BA
Catedral Anglicana do Bom Samaritano - Recife/PE
Centro da Mulher imigrante e refugiada - Cemir
Centro de Migrações e Direitos Humanos - CMDH
Centro Educacional Missionário Esperança, Amor e Resgate - CEMEAR - Anori/AM
Centro Transcultural de Missões
Cia. De Arte Cristã
Comunidade Waikiru
Conselho Nacional de Igrejas Cristãs - CONIC
Escola Comunitária Luiza Mahin
Espaço Cultural Alagados
Federação das Entidades e Projetos Assistenciais da CIBI - Convenção das Igrejas Batistas Independentes
Fórum Grita Baixada
Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito - Núcleo RJ
Grupo TransformAÇÃO
Igreja Batista da Vila Ivonete
Igreja Batista Independente em Pacaraima
Igreja Batista Novidade de Vida
Igreja Metodista
Igreja Sal da Terra
Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial - Baixada Fluminense/RJ
Instituto Bempescado
Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social do Ceará - IDESQ
Instituto Delfos
Instituto de Desenvolvimento Sócio Cultural e Econômico de Favelas - DESCE Favela
Instituto de Mulheres Negras Luiza Mahin
Instituto Edificando
Instituto Solidários da Amazônia
Instituto Vidas
Missão Evangélica de Assistência aos Pescadores - MEAP
Missão Global da Fé
Missão Semeadores da Vida - AM
Nossa Igreja Brasileira - Igreja Batista
Paróquia Anglicana da Santíssima Trindade no Méier
Plataforma Intersecções
Rede Cristã de Advocacia Popular - RECAP
Rede de Protagonistas em Ação de Itapagipe - Salvador/BA
Rede Fale
Retalhos de Esperança Internacional
Serviço Pastoral dos Migrantes - SPM
Tearfund Brasil
Visão Mundial


Sobre a Visão Mundial
A Visão Mundial Brasil integra a parceria World Vision International, que está presente em cerca de 100 países. No País, a Visão Mundial atua desde 1975, beneficiando 2,7 milhões de pessoas com projetos nas áreas de educação, saúde/proteção da infância, desenvolvimento econômico e promoção da cidadania. Seus projetos e programas têm como prioridade as crianças e adolescentes que vivem em comunidades empobrecidas e em situação de vulnerabilidade. Nesses 44 anos de atuação no Brasil, a Visão Mundial se consolida como uma organização comprometida com a superação da pobreza e da exclusão social. Para saber mais, acesse o site visaomundial.org


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