Quando se mudou para Los Angeles, há um ano, o humorista Tom Cavalcante tinha uma ideia fixa: "Foi um insight. Chegar à terra de Brad Pitt, comprar um schnauzer e colocar o nome de Brad Pet".
"Depois de 21 anos, eu me sentia saturado", diz o cearense ao narrar a decisão de deixar o país por um tempo para tentar a sorte na Meca do cinema. Após sete anos na Record e um antes do fim do contrato, diz ter procurado os bispos em 2012 para fazer um acordo e deixar a emissora. "Escrevia, atuava e dirigia, um trabalho muito duro. E ainda tinha que dar conta dos shows pelo Brasil."
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A ruptura foi radical. Deu um tempo em tudo. Antes de carimbar o 
passaporte, organizou a vida. "Só uma coisa me irritou: o montante de 
cheques que tive de fazer para sair daqui. O Brasil é quase uma prisão 
fiscal, sabia?"
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Deixou os dois filhos mais velhos -Ivete, 29, e Ives, 26-que fazem 
faculdade em São Paulo. Desembarcou em West Hollywood com a mulher e a 
filha mais nova, Maria, 14. E logo a família cresceu com a chegada de 
Brad Pet.
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Matriculou-se em um intensivo de inglês. Em alguns períodos, chegou a 
encarar oito horas diárias de aulas. Tinha certa fluência, mas o 
propósito é dominar o sotaque californiano. "É o que quero aprender para
 trabalhar no cinema. Corresponde ao acento carioca que vai para as 
novelas, entende?"
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Conta que não demorou a entender expressões como "have a good one", o 
corriqueiro "tenha um bom dia", menos literal. Fez workshops na New York
 Film Academy e contratou profissionais norte-americanos para atuar ao 
seu lado em "seu cartão de visitas" em Hollywood: um curta-metragem que 
bancou com seu próprio dinheiro.
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Em "Pizza me Mafia", Tom faz três papéis (Joe, Mamma e Tom Calzone) para
 contar uma história de amor e traição envolvendo mafiosos. A première, 
para 500 convidados, foi no principal teatro da Paramount, um dos 
maiores estúdios do mundo.
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Coisa de nordestino atrevido. "Foi um acontecimento. Tenho sangue do 
Chateaubriand, que dava festa no palácio de Buckingham." Refere-se a 
Assis Chateaubriand, o Chatô, empresário e jornalista brasileiro 
conhecido pela ousadia.
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"Causou espanto encher um teatro em Hollywood que até os americanos têm 
dificuldade para lotar", testemunha Patrícia, mulher de Tom e produtora 
do curta. O marido não revela quanto gastou. Patrícia solta apenas um 
dos custos: o aluguel de duas câmeras e técnicos que trabalharam em 
"Transformers", por US$ 15 mil (R$ 36 mil).
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Tom não economiza no seu sonho. Preparou um "resumé", seu currículo em 
inglês. Projeta o vídeo de 12 minutos em uma das salas de seu apê 
convertida em cinema. Logo abaixo da telona, estão seus quatro troféus 
Imprensa, prêmio conferido pelo SBT. "São meus Oscars." Três por "Sai de
 Baixo" (Globo) e um de humorista do ano.
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Na edição dos seus melhores momentos para gringo ver, selecionou "Bofe 
de Elite", paródia de "Tropa de Elite". Tudo com legendas em inglês. A 
mais divertida é a tradução do quadro "Bruna Cachoeirinha", inspirado em
 Bruna Surfistinha. Travestido da garota de programa, Tom recebe 
clientes com frases como "Prepare-se, a Jiripoca vai piar" traduzida 
livremente para "Get ready, the snake will smoke [a cobra vai fumar]".
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Na tela, desfilam celebridades com as quais cruzou nos estúdios da vida,
 como Julio Iglesias e Roberto Carlos, que conheceu quando era 
radialista. Reencontraram-se na Globo. Já famoso, o cearense participou 
do especial de fim de ano do cantor.
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Em seu aniversário de 50 anos, Tom ganhou um presentão do Rei: um 
Corvette importado. O esportivo americano (2012) é avaliado em mais de 
R$ 300 mil. "Só tinha ganhado carrinho de plástico quando era pequeno", 
diverte-se. Na mudança para L.A., a preocupação era deixar o carrão na 
mão do filho. "O menino é proibido de aterrorizar nas curvas da estrada 
de Santos."
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É grato a Roberto também pelo encontro com Patrícia, com quem está 
casado há 18 anos. Os dois se conheceram na gravação de um especial do 
cantor. "De certa forma, ele me deu a Patrícia e um carro. Agora só 
falta a casa", brinca. O casal vai se reencontrar agora com o padrinho 
nos dez anos do Cruzeiro Emoções, dias 8 e 9. Tom também fará shows no 
navio.
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Em Los Angeles, coleciona autógrafos. Levou a filha ao lançamento do 
livro de Jim Carrey, o comediante estrangeiro com o qual mais se 
identifica. "Ele foi simpaticíssimo", diz sobre o astro de "O Máscara" e
 "Debi & Loide". Tietou Adam Sandler, outro nome quente da comédia 
por lá. "Curti isso de ver um artista e ir lá falar. Dar uma de fã."
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Já foi esnobado. Madeleine Stowe, a Victoria Grayson da série "Revenge",
 recusou-se a tirar foto, com a desculpa de estar sem maquiagem. "Quando
 tenho oportunidade conto que sou humorista e ator. Imediatamente, eles 
mostram respeito."
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É vizinho de Seu Jorge, que também passa temporada em Los Angeles, e com
 quem costuma tomar vinho. Sérgio Mendes, outro brasileiro famoso na 
área, vai virar parceiro. Os três pretendem subir ao palco juntos. "Eles
 toparam. Sérgio começa tocando, passa a bola pra Seu Jorge e eu entro 
no final imitando Sinatra." A ideia é estrear o espetáculo em setembro.
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Hollywood é um recomeço. "Tô chegando humilde. É como sair do Ceará pro 
Rio e ir bater na porta da Globo." Já foi aceito por uma empresa de 
relações públicas que trabalha com bambambãs como Jim Carrey. "Por 
enquanto, é tudo no vamos ver. É como aparecer um menino do Maranhão e 
dizer: Tom, deixa eu trabalhar contigo?"
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Ele corre atrás de um Chico Anysio, mestre que lhe deu a primeira chance
 na TV, de lá. Ficou dez anos na cola do conterrâneo pioneiro até ter 
uma oportunidade como redator. "Não tem essa de chegar e logo trabalhar.
 Funciona assim: o cabra tá lá no set e o cara que ia carregar bandeja 
na cena não apareceu. O diretor, então, te manda vestir a roupa de 
garçom."
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O investimento é de longo prazo. "Primeiro, queria entender a engrenagem
 e atuar com os caras lá." Em paralelo, começa a desenhar seu primeiro 
longa, em português mesmo, de olho no boom das comédias nacionais. 
"Quero começar minha vida no cinema imitando o Renato Aragão, um 
vencedor nessa história."
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Será uma coprodução Brasil/EUA. E, com os compromissos de Tom, o 
cãozinho Brad Pet já está se adaptando à ponte aérea. Deu uns rolês pelo
 shopping Pátio Higienópolis e já obedece a ordens em português. É um 
sucesso também na Pauliceia, of course.Folha
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